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études féministes/ estudos feministas
juillet / décembre 2010 - julho/dezembro 2010
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A CANÇÃO
NO FEMININO
Ana Carolina Arruda
de Toledo Murgel
RESUMO
A proposta deste artigo é apresentar algumas das compositoras
brasileiras e suas obras dentro da canção
popular no século XX.
Focaliza especialmente algumas de suas produções
entre os anos de 1920
e 1960. Faz parte de uma ampla pesquisa
que venho realizando desde
o mestrado, trazendo algumas referências a outros
artigos que escrevi sobre
o assunto, inclusive
aqui na Labrys. A proposta
de um texto multimedia
permite às(os) leitoras(es) escutar as canções citadas, bastando
para tanto clicar
nos links oferecidos. Para ouvir as canções, é preciso instalar em seu computador o programa
RealPlayer.
Palavras-chave: compositoras, brasil,
canção popular
Por sete séculos eu fui
Escrava devotada de um mandarim
Trançava ouro em seus bigodes, seus pagodes
Forrava sua cama de cetim
Regava suas flores de cristal
Bordava rouxinóis em seu jardim
E agora, com a queda do Império
Falando sério
O que será de mim?
“O
mandarim” (Jussi Campelo)
A música popular já nasceu sob suspeita no Brasil, e se
para os homens do início do século XX canção popular era sinônimo de vadiagem,
[1] o ingresso das mulheres nesse campo foi muito difícil e acompanhado
de profundas suspeitas sobre a “integridade moral” das que se aventuraram.
Se na literatura e na poesia as mulheres levaram anos para obterem algum
reconhecimento (cf. TELLES, 1997), na canção, e em especial na canção
popular, eram completamente desconhecidas, com a honrosa exceção de Chiquinha
Gonzaga, que sofreu preconceitos durante toda sua carreira. Mesmo como
cantoras, as mulheres só “aparecem” a partir dos anos de 1920. Zuza Homem
de Mello e Jairo Severiano contam que no início daquele século,
[...] se os cantores eram escassos, inexistente era o
naipe das cantoras. A rigor, não há no Brasil uma só cantora popular de
sucesso antes da década de 1920. Deve-ser o fato, simplesmente, à não
existência desse tipo de atividade profissional em nossa sociedade machista
de então. O que havia eram atrizes do teatro musicado que às vezes gravavam.
As exceções seriam talvez as duas moças que, no suplemento inicial de
discos da Casa Edison, aparecem cerimoniosamente tratadas como Srta. Odete
e Srta. Consuelo. Sobre essas moças, as primeiras brasileiras a gravarem,
tem-se apenas uma informação biográfica: eram senhoritas. (SEVERIANO;
MELLO, 1997:18)
No texto acima, ao mesmo tempo em que os autores denunciam
a inexistência de informações sobre as duas primeiras cantoras, ao citarem
as atrizes do teatro, não dão por sua vez qualquer informação sobre essas
mulheres, que se cantavam eram também cantoras. Desta forma, eles repetem
a omissão que denunciam. Se já sabemos que as mulheres desaparecem no
plural masculino de “cantores do período” e também em “compositores do
período”, a produção bibliográfica sobre a história da música brasileira
também é fortemente marcada pelo apagamento da experiência feminina, só
lembrada eventualmente por suas intérpretes e sempre em relação ao universo
masculino que as cercava e cerceava.
Em Um teto todo seu, publicado em 1928, Virgínia
Woolf notava que o reconhecimento da competência feminina em artes tradicionalmente
masculinas era sempre algo a ser perseguido, destacando como a maior dificuldade
estava especialmente no campo da música:
Haveria sempre aquela afirmativa – você não pode fazer
isto, você é incapaz de fazer aquilo – contra a qual protestar e ser superada.
Provavelmente, para uma romancista, esse germe já não surte grande efeito,
pois tem havido mulheres romancistas de mérito, mas, para as pintoras,
isso deve trazer ainda algum tormento; e para as musicistas, imagino,
é ainda hoje ativo e venenoso ao extremo. (...) abrindo um livro sobre
música, temos as mesmas palavras novamente usadas neste ano da graça de
1928, sobre mulheres que tentam escrever música. “Sobre a srta. Germaine
Tailleferre, pode-se apenas repetir a máxima do Dr. Johnson sobre as mulheres
pregadoras, transposta em termos de música: ‘Senhor, a composição de uma
mulher é como o andar de um cachorro sobre as patas traseiras. Não é bem-feita,
mas já surpreende constatar-se que de qualquer modo foi feita’.” Com que
exatidão a história se repete... (WOOLF, 1990: 67-68)
Dentro da composição popular no Brasil, em pelo menos dois
textos, escritos por Pedro Alexandre Sanches, da Folha de São Paulo,
o crítico musical “cria” um vácuo entre a produção musical de Chiquinha
Gonzaga, no início dos anos de 1860, até os anos de 1950, com as composições
de Dolores Duran e Maysa. Em 1996, falando sobre cantores e cantoras,
ele escreve no caderno “Mais!”:
Com escassas exceções - Chiquinha Gonzaga, Dolores Duran,
Maysa -, a composição no Brasil foi um ofício levado a cabo pelos homens
até que a guerrilheira Rita Lee viesse cravar novos rumos.
Foi ela quem abriu alas para que passassem Baby Consuelo
-a mais completa simbiose de rock e samba que este país produziu- nos
70, Angela RoRo, Marina Lima e Paula Toller nos 80, Fernanda Abreu e Zélia
Duncan nos 90. E o mercado não faz restrições contra a aventura feminina
de compor. "Registros à Meia-Voz", de Marina, chega às 70 mil
cópias em menos de um mês; "Intimidade", de Zélia, a 90 mil,
em igual período. (SANCHES, 1996)
O crítico poderia ter dito apenas “escassas exceções”,
mas ao nomear as três primeiras efetua uma operação de redução completa:
entende-se que depois de Chiquinha Gonzaga, vieram somente Dolores e Maysa.
Em 2001, numa reportagem que trazia o resultado de uma
enquete elaborada pelo caderno “Ilustrada” da Folha de São Paulo, sobre
as músicas mais apreciadas da MPB, ele afirma:
Não sobrou muito para a ala feminina de compositores
na enquete das músicas mais apreciadas da MPB. Rita Lee comparece isolada
na 11ª posição (empatada com o bamba do samba Cartola) entre os autores
mais lembrados.Bem atrás (no tempo e na lista), Chiquinha Gonzaga e Dolores
Duran empatam, com apenas quatro votos cada. Maysa, precursora da presença
feminina na MPB moderna com Dolores, foi esquecida.Seria machismo ou sinal
de que as mulheres são mesmo menos ativas como autoras de canção popular?
(SANCHES, 2001)
Indagadas pelos autores da reportagem sobre esta questão,
Rita Lee responde:
As mulheres são quantitativamente menos presentes em
muitas áreas. Começamos a botar nossas asinhas de fora recentemente, enquanto
o patriarcado existe há séculos [...] Chiquinha Gonzaga era do tempo em
que os varões diziam: “Música é coisa para homem”. Dolores Duran era do
tempo em que os caras falavam: “Mulher compositora é puta”. Eu sou do
tempo em que o clube do Bolinha dizia: “Para fazer rock tem que ter culhão”.
Cássia Eller é do tempo em que dizem: “Precisa ser mulher-macho para fazer
música igual a homem”. Minha neta será do tempo em que vão dizer: “Só
mesmo uma mulher para fazer música tão boa”. (LEE apud SANCHES, 2001)
e Paula Toller arremata:
Não sou pequenininha, não tenho mãe chamada Paula nem
uso esse apelido, mas sempre me chamam de Paulinha. É Paulinha Toller
e Fernandinha Abreu. Pergunte se existe Robertinho Frejat. Dá preguiça,
mas se falo dizem que é mau humor [...]Deve ser preguiça, as pessoas esquecem
mesmo. Há muito homem na música, ficar com mulherzinha deve ser mais difícil.
É lógico que há machismo, é questão de maioria, de quorum. (TOLLER apud
SANCHES, 2001)
Esses comentários de Pedro Sanches me causaram estranhamento:
sabemos que as mulheres das classes burguesas e aristocráticas tinham
a aprendizagem musical do piano entre os ofícios permitidos, é muito difícil
acreditar que se tornaram somente intérpretes. Chiquinha Gonzaga é o exemplo
disso. Quantas outras mulheres compositoras desconhecemos ainda hoje?
Se a poeta Alice Ruiz, já nos anos de 1960 ainda precisava esconder seus
versos, quantas belas canções podem ter se perdido nas gavetas e armários
das ocultas compositoras brasileiras?
A historiadora Michelle Perrot escreve sobre as mulheres
compositoras em seu livro, Minha História das Mulheres:
E a música?
Aí se acumulam obstáculos. Por parte das famílias, para
começar [...]. O pai de Félix e Fanny Mendelssohn, igualmente dotados,
escreve a esta última, em 1820, a respeito da música: “É possível que,
para ele, a música venha a ser uma profissão, enquanto, para você, não
será mais do que um ornamento".
Pior ainda quando as desaprovações vêm do marido ou do
companheiro. Clara Schumann se sacrifica por Robert; Alma Mahler por Gustav.
Durante o noivado, Gustav lhe pedira explicitamente renunciar à musica.
“Como é que você imagina um casal de compositores? Você já pensou a que
ponto uma rivalidade tão estranha se tornará necessariamente ridícula?
[...] Que você seja aquela de que preciso, [...] minha esposa e não minha
colega, isso sim, está certo.” (PERROT, 2007: 104-105)
Perrot está falando de compositoras de música clássica,
e se fizermos um levantamento no Brasil, perceberemos que mais de cem
anos depois as mulheres ainda eram submetidas a esses obstáculos, inclusive
na canção popular. Foram muitas as cantoras e compositoras que desistiram
de sua carreira artística para cuidar da família e do casamento. Cito
algumas delas que se tornaram muito conhecidas em seu tempo de atuação:
Aurora Miranda, Celly Campelo, Leny Eversong e Wanda Sá, que antes de
se casar estava formando uma sólida carreira no exterior, e só voltou
a cantar profissionalmente recentemente, depois da separação do compositor
Edu Lobo.
Intrigada com as afirmações do crítico da Folha de São
Paulo, fiz um rápido levantamento e encontrei várias compositoras
no vácuo criado por ele, entre elas Carmen Miranda, com duas canções suas
gravadas nos anos de 1930, uma delas, intitulada “Os
hôme implica comigo” em parceria com o mestre Pixinguinha:
Meu Deus, eu já não posso mais
Viver assim
Com esses home implicando
Por causa de mim
Eles gosta da gente
Eu já sei por que é
É porque eles não pode
Vivê sem muié
Eu não gosto dos home
Porque eles são ruim
Quarqué coisa que eu faço
Eles falam de mim
Eles pensa que eu sou dessas
Garotas de arengação
Mas estão muito enganado
Comigo não violão!
Somente duas canções encontradas do maior fenômeno musical
brasileiro dos anos de 1930, mas é muito provável que existissem outras.
E é notável o comentário de Ruy Castro em sua biografia sobre essa canção:
Foi também a Victor que tornou Carmen “parceira” de Pixinguinha
no samba “Os home implica comigo” – a idéia da letra pode ter sido dela,
mas os versos tortos tinham todos os cacoetes de Josué (CASTRO, 2005:
63).[2]
Castro coloca em dúvida a capacidade de Carmen como compositora,
sem duvidar em seu livro, no entanto, que ela cria e define uma forma
única de interpretação da música popular brasileira a partir de seu trabalho.
A própria letra de Carmen pode responder ao autor: sempre a implicância,
sempre a incapacidade da criação para as mulheres. Isso também se repete
com a compositora pernambucana Almira Castilho, autora de vários sucessos
a partir dos anos de 1950 que foram gravados por seu marido, Jackson do
Pandeiro. Almira compôs a letra de “Chiclete
com banana”, musicada por Gordurinha e gravada pela primeira vez em
1958. Essa canção foi considera por Gilberto Gil como precursora do Tropicalismo,
tendo sido gravada também por ele:
Eu só ponho bip-bop
No meu samba
Quando Tio Sam tocar o tamborim
Quando ele pegar no pandeiro
E no zabumba
Quando ele entender
Que o samba não é rumba
Aí eu vou misturar
Miami com Copacabana
Chicletes eu misturo com banana
E o meu samba vai ficar assim
Quero ver a grande confusão
É o samba-rock, meu irmão
É, mas em compensação
Eu quero ver o boogie-woogie
De pandeiro e violão
Eu quero ver o tio Sam de frigideira
Numa batucada brasileira
Almira sempre teve essa parceria questionada: a afirmação
era de que a letra era de Jackson, mas que ele registrara em nome da esposa,
o que foi desmentido por seu biógrafo (cf. MOURA, 2001). No entanto, no
verbete de Jackson do Pandeiro, do Dicionário Cravo Albin de MPB, consta
a seguinte informação:
Em 1959, [Jacson do Pandeiro] gravou a marcha "Quem
não chora não mama", de Paquito e Romeu Gentil. No mesmo ano, gravou
outro samba, de sua parceria com Gordurinha, "Chiclete com
banana", que se tornaria um de seus maiores sucessos e que seria
regravada posteriormente por Gilberto Gil. (Verbete de Jackson do Pandeiro
no site do Instituto Cravo Albin [UFRJ])
Não existe um verbete sobre Almira, e mais uma vez uma
compositora “desaparece”.
Outros nomes importantes que destaco desse primeiro levantamento
“entre” Chiquinha Gonzaga e Maysa, são Marília Batista, parceira de Noel
Rosa nos anos de 1930 e autora de sambas de breque gravados por Moreira
da Silva e Aracy de Almeida; Dilú Mello, autora do clássico “Fiz
a cama na varanda” e Lina Pesce, autora de grandes sucessos nos anos
de 1950.
Marília Batista foi parceira de Noel Rosa em pelo menos
duas canções, “Balão
apagado” e “João
Teimoso”. De família tradicional carioca, conheceu o compositor aos
quatorze anos, de quem se tornou amiga, intérprete e parceira. No samba
de breque “Menina
fricote”, gravado por Aracy de Almeida, Marília mostrava humor e genialidade
musical que em nada ficava a dever a Noel. Este samba, como os de Assis
Valente já citados, brinca também com a influência dos estrangeirismos
na canção popular e nos costumes cariocas da alta sociedade dos anos de
1930 e 40:
Não sei que doença deu na Risoleta
Que agora só gosta de ouvir opereta
Cheia de prosa, cheia de orgulho
Cheia de chiquê
E faz fricote como o quê
Não canta mais samba
Só quer imitar Lucienne Boyer
Parle moi d'amour
Só quer l'argent, l'argent toujours
Ela não sabe nem ler
E já quer gastar o francês
E diz que despreza
Quem só fala português
Essa Risoleta está muito mudada
Está cheia de pose
Pra ser elegante
Ela diz que o bastante
É usar bois de rose
Quelque chose bois de rose?
Ela diz pra mim
Que quando está gripada
Não faz atchim não
Porque não fica bem
Em vez de atchim, ela faz acthem
Diz que o au-au é le chien
Não sei que doença deu na Risoleta
Que agora só gosta de ouvir opereta
Cheia de prosa, cheia de orgulho
Cheia de chiquê
E faz fricote como o quê
Não canta mais samba
Só quer imitar Lucienne Boyer
Parle moi d'amour
Só quer l'argent, l'argent toujours
Ela não sabe nem ler
E já quer gastar o francês
E diz que despreza
Quem só fala português
Não sai dos cassinos
Perdendo dinheiro, perdendo l'argent
Se acaso me encontra
Me pede emprestado
Diz que é minha fã
Mas eu lhe digo até amanhã
Mas eu já lhe disse
Nerusca, menina
Não venha pra aqui
A me chamar de très jolie
Eu não sou mon chéri
E língua estrangeira
Eu nunca entendi
Larga essa papa de oui
Também nos anos 1940, como assinalamos, a maranhense Dilú
Mello foi autora da música de um dos grandes clássicos da música brasileira,
“Fiz
a cama na varanda”, com letra de Ovídio Chaves:
Fiz a cama na varanda me deitei pensando em ti
Deu um vento na roseira ai meus cuidados
Que do sono me esqueci
Menina, minha menina
Ai não faças assim como eu
Que vivo morta de pena
Porque ninguém me escolheu
Fiz a cama na varanda me esqueci do cobertor
Deu um vento na roseira ai meus cuidados
Me cobriu toda de flor
Lá detrás daquele morro tem um pé de amor perfeito
Eu vivo louca à procura, ai meus cuidados
De um pobre amor sem defeitos
Outra bela canção da musicista foi “Meu
Cariri”, gravada pela primeira vez em 1953, pelo Trio Orixá, mas tendo
se tornado muito conhecida nacionalmente na interpretação de Clara Nunes,
em 1973:
No meu Cariri
quando a chuva não vem
não fica lá ninguém
somente Deus ajuda
se não vier do céu
chuva que nos acuda
macambira morre
chique-chique seca
juriti se muda
Se meu Deus der um jeito
de chover todo ano
se acaba o desengano
o meu viver lá é certo
o meu Cariri
pode se ver de perto
quanta boniteza
pois a natureza
é um paraíso aberto
A paulistana Lina Pesce foi outra grande compositora já
atuante no final dos anos 1920, quando teve a valsa “Crepúsculo”
gravada por Gastão Formenti na Odeon. Em 1942, fez sucesso com o choro
“Bem-te-vi
atrevido”, que recebeu, no mesmo ano, gravação da pianista norte-americana
Ethel Smith e gravações posteriores na França, Inglaterra e Itália, entre
outros países. No entanto, reforçando o “desaparecimento” das compositoras,
Hermeto Pascoal apresentou esse choro no programa Ensaio, da TV Cultura,
como sendo de Pixinguinha. Lina Pesce foi compositora e pianista atuante
até o final dos anos 1960, tendo entre seus intérpretes nomes como Carolina
Cardoso de Menezes, Altamiro Carrilho, Elizeth Cardoso e Dolores Duran.
Também vale lembrar que, em 1958, ano da primeira gravação
de uma música de Dolores Duran, a cantora e pesquisadora Inezita Barroso
gravou um LP apresentando as compositoras Babi de Oliveira, Juracy Silveira,
Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade,[3]
mostrando que o problema de se imaginar que só Dolores e Maysa surgiram
com trabalhos autorais, depois de Chiquinha Gonzaga, era possivelmente
pela centralização da indústria fonográfica e da difusão alcançada pelos
artistas que atuavam no Rio de Janeiro.
O disco de Inezita traz poucas informações sobre cada uma
delas, mas das cinco, a também premiada pintora Zica Bérgami, paulista
de Ibitinga, teve sua canção “Lampião
de gás” entoada pelo país inteiro na voz de Inezita, no mesmo ano:
Lampião de gás
Lampião de gás
Quanta saudade
Você me traz
Da sua luzinha verde azulada
Que iluminava a minha janela
Do almofadinha lá na calçada
Palheta branca, calça apertada
Do bilboquê, do diabolô
Me dá foguinho, vai no vizinho
De pular corda, brincar de roda
De benjamim, jagunço e chiquinho
Lampião de gás
Lampião de gás
Quanta saudade
Você me traz
Do bonde aberto, do carvoeiro
Do vassoureiro, com seu pregão
Da vovozinha, muito branquinha
Fazendo roscas, sequilhos e pão
Da garoinha fria, fininha
Escorregando pela vidraça
Do sabugueiro grande e cheiroso
Lá no quintal da rua da graça
“Lampião
de gás” é uma canção em homenagem a São Paulo, de profunda nostalgia
sobre o passado da cidade. Zica Bérgami compôs várias outras canções sobre
esse tema, e teve em 1999 um disco tributo gravado pela intérprete Zezé
Freitas, e um disco gravado por ela em 2000, intitulado Salada de Danças,
ambos independentes. Nascida em 1913, a compositora, hoje com 97 anos,
é também escritora e uma premiada desenhista com reconhecimento internacional,
tendo seu nome citado em livros de pintura sobre os primitivistas (cf.
site oficial de Zica Bérgami).
Gravura
de Zica Bérgami
Leyde Olivé, mineira de Uberaba, havia sido premiada no
começo dos anos de 1950 por sua atuação em um festival de ritmos brasileiros.
Em seu disco de 1958, Inezita grava dela o samba “Recado”,
com sotaque caipira, com uma letra que mostrava que mesmo nesse tempo,
as mulheres casadas não eram tão reclusas como gostariam de pensar seus
maridos:
Nego
Tu tá granfino com cabelo esticado
Sapato branco, terno de linho engomado
Eu só queria passá perto e num oiá
Pruque eu tenho do meu lado um danado bem iguá
Mas ocê fica de lado a me atentá
Para com esse jeito de que tá me exprementando
Oio espichao, esticado, me assustando
Oia que quem mexe com fogo sai queimado
Não arrepito o recado
Num sô de briga, tu tá prercurando intriga
Meu cabra já tá escolhido
É alinhado, inté parece um dotô
Carinhos, às vez bate, ma'com jeito
E num imprica cos negrinho
Dois tiquinho que me deu Nosso Sinhô
Mas pode ser que um dia eu teja arrevesada, enfezada,
mei pancada
E assim quem me agarante o aprocedê
Se ocê num qué com o meu nego se enrascá
Bota os óio proutro lado
Com exceção de Zica Bérgami, pouco sabemos dos trabalhos
ou das histórias das outras compositoras apresentadas por Inezita. A única
fonte de referência disponível sobre cada uma delas é a capa desse LP
da intérprete.
mulheres por natureza: o peso dos estereótipos
O caminho para a composição feminina no Brasil foi árduo
e lento, e a percepção das diferenças entre os gêneros, em especial, na
construção de um eu feminino diferenciado do discurso masculino sobre
“o que seríamos” também foi gradual. Os levantamentos apresentados aqui
sobre a composição feminina são ainda iniciais, devendo se transformar
num projeto de pesquisa futuramente, já que mais do que conhecer as artistas
e sua produção, interessa-me também compreender, como com Alice Ruiz,
como as compositoras se apropriaram do discurso como acontecimento, apontando
para novas possibilidades do feminino: as mulheres, com suas produções
musicais, reinventam-se? Ou, em outras palavras, estão incorporando modificações
na construção do eu fora do sujeito universal masculino?
Pensando na explosão da composição feminina junto nos anos
de 1960 e 70, é importante pensar como viviam as mulheres antes da contracultura
e do feminismo, em especial nos anos de 1950, quando se iniciam as gravações
de Maysa e Dolores Duran no período do samba-canção. Lembremos da personagem
Laura, vivida por Julianne Moore no filme As Horas: no filme, a
personagem lê um livro de receitas, repetindo as palavras: “primeiro eu
vou te mostrar... como medimos as xícaras”. “Mamãe, não é tão difícil”,
argumenta seu filho de quatro anos, tentando ajudá-la. “Eu sei que não
é difícil. Mas é que quero fazer isso para o papai”. “Porque é aniversário
dele?”. “Isso mesmo. Estamos fazendo o bolo para mostrar que gostamos
dele”. Estranhamento: “Senão ele não vai saber que o amamos?”. Silêncio.
Ela olha longamente para o filho e responde: “Isso mesmo.”
A cena é o início de uma muda aflição que vai crescendo
nos espectadores que não compreendem a agonia da personagem. Ela é casada
com um marido amoroso, financeiramente estável, mora numa casa linda,
tem um filho bonito e está grávida do segundo. Acompanhando a história
de Laura, sentimos a agonia crescer no não dito. Pensa em suicídio. Não,
suicídio não é a saída. Descobrimos, no final do filme, que ela abandonou
as crianças e o marido e fugiu para o Canadá, onde ficou trabalhando como
bibliotecária, sem nunca ter se arrependido por essa escolha.
Laura é uma personagem dos anos de 1950, e como muitas
mulheres que viveram naquele tempo sentia-se estranha e desconfortável
naquilo que “deveria” ser-lhe inato: o desejo da maternidade, e
do cuidado para com marido e filhos. Se uma mulher estranhasse essa natureza
em si, seria com certeza considerada uma degenerada. Não havia outras
opções, a natureza feminina já estava “mapeada cientificamente”
desde o século XIX.
O regime de domesticação e normatização imposto às mulheres,
naqueles anos, foi profundamente marcado pela nítida distinção das identidades
sexuais, com especial atenção para a essência inerente ao feminino
e ao masculino. Em uníssono, os conselhos estampados nos jornais e colunas
femininas diziam: “não reclame nunca de falta de atenção ou infidelidades,
não atormente seu marido com futilidades quando ele estiver em casa, –
cabe a você, mulher, mostrar-se sempre interessante aos olhos dele, com
o risco de perdê-lo sem esse cuidado”.
Em caso de infidelidade, esperava-se que a ira de uma mulher
jamais deveria voltar-se contra o marido:
Toda a revolta, se houvesse, deveria recair sobre a outra,
a rival, a amante do marido. A esposa teria de fazer tudo o que estivesse
ao seu alcance para sobrepujá-la, de preferência sem enfrentamentos diretos
e sim mostrando ao marido que ela, como boa esposa, poderia ser melhor
companheira que a outra. (BESSANEZI, 2001: 635)
Também na canção popular, a existência de outra mulher
na vida de um marido era de responsabilidade da esposa que não cumprira
o papel ao qual fora destinada, como mostra o samba-canção “Eu
sou a outra”, de Ricardo Galeno. A canção, feita especialmente para
a cantora Carmen Costa, que na época era “a outra” na vida do compositor
Mirabeau, mostra também a situação da amante, enjeitada pela sociedade
– sem nome e mesmo assim difamada, ela é o símbolo da mulher fatal ou
degenerada, ligada tão somente à sexualidade “primitiva”:
Ele é casado
Eu sou a outra na vida dele
Que vive qual uma brasa
Por lhe faltar tudo em casa
Ele é casado
E eu sou a outra que o mundo difama
Que a vida, ingrata, maltrata
E sem dó, cobre de lama
Quem me condena
Como se condena uma mulher perdida
Só me vê na vida dele
Mas não o vê na minha vida
Não tenho nome, trago o coração ferido
Mas tenho muito mais classe
Do que quem não soube prender o marido
Percebem-se, na canção popular desse período, a construção
das mulheres de forma binária: anjo ou demônio, uma ou outra, raramente
múltipla. Esse imaginário da mulher perversa versus a mulher santificada
fazia parte não só da moral vigente como também era reforçado nas histórias
infantis, retransmitidas até hoje: todos se lembram das estórias da bruxa
má ou a madrasta maltratando as princesas órfãs, que só podiam contar
com seu recato e honra para suportar todo sofrimento em suas vidas. Esse
sofrimento seria recompensado no final da história com o amor verdadeiro
e o casamento com o príncipe de seus sonhos.
É importante lembrar que o regime de domesticação e normatização
imposto às mulheres, nos anos de 1940 e 50, foi profundamente marcado
pela nítida distinção dos papéis entre os sexos, com especial atenção
para a essência inerente ao feminino e ao masculino. Margareth
Rago mostra, em Os Prazeres da Noite (RAGO, 1991: 141-164), como
a sexualidade feminina foi deslocada, desde o século XIX, pela misógina
discursividade médica. Apontando para as transformações nos modelos de
feminilidade, na virada para o século XX no Brasil, a historiadora mostra
a emergência da figura da “rainha do lar”, higiênica, asséptica, vigilante,
em oposição à figura noturna e sedutora da femme fatale. Até a
década de 1960, entre os modelos da mãe honesta e assexuada e de seu oposto,
a prostituta extravagante e ameaçadora, poucos espaços foram deixados
para as mulheres.
É nesse cenário bastante restrito, que surgem duas das
maiores compositoras brasileiras: Dolores Duran e Maysa. Em comum, as
duas amigas compunham, tiveram casamentos brevíssimos e se tornaram as
talvez hoje mais lembradas vozes do samba-canção nos anos 1950.
Dolores cantava desde criança para ajudar no orçamento
da família. Perdeu o pai muito cedo, casou-se aos 25 anos com o compositor
Macedo Neto, separando-se três anos depois. Apesar de ter sido marcada
por suas composições e gravações no estilo samba-canção, portanto na rima
do amor e dor, Dolores gravou xotes, baiões e sambas, e pouquíssimas de
suas próprias canções: “Fim
de caso”, “Por
causa de você”, “Solidão”,
“Não
me culpe”, “Prece
de Vitalina”, “Minha
toada” e “A
noite do meu bem”. Todos os seus outros grandes sucessos como compositora
foram póstumos e em grande parte formados por letras musicadas após sua
morte, como “Ternura
antiga” e “O
negócio é amar”. Deixou cerca de 40 canções.
Maysa também começou a cantar e a compor muito cedo: com
12 anos, já havia criado as canções “Adeus”
e “Marcada”,
gravadas no primeiro disco. Ao contrário de Dolores, vinha de uma abastada
família de políticos capixabas. Seus pais eram bastante liberais, e foi
através das festas em sua casa que conheceu Sílvio Caldas,
[4] que lhe ensinou a tocar violão. Seu biógrafo, Lira Neto, lembra
que o violão era um instrumento muito mal visto na mão das mulheres, que
deviam se abster ao piano como formação musical – e, aqui lembrando o
trecho já citado de Michelle Perrot, mesmo assim, como ornamento.
Ainda no final dos anos 1940, já morando em São Paulo,
o escritor conta que Maysa escandalizava a alta sociedade usando calças
jeans e camisas de homem amarradas na cintura. Casou-se aos 17 anos com
André Matarazzo, de uma das mais ricas famílias industriais de São Paulo,
18 anos mais velho do que ela. Profundamente entediada com a vida de dona
de casa, foi incentivada pelo marido a voltar a cantar e a compor. Logo
apareceu o convite para gravar o primeiro disco, proposta que foi muito
mal aceita por seu marido:
Diante do entusiasmo de Maysa, André acabaria cedendo
[...] Mas, mesmo assim, estabeleceria algumas condições.
Ela não poderia se apresentar, de modo algum, como cantora profissional.
Não podia ser confundida com uma artista de rádio, o que à época, para
as ditas boas famílias, equivalia a ser comparada com uma meretriz. (NETO,
2007: 63)
Também por exigência do marido, o primeiro disco de Maysa
saiu apenas com um arranjo de orquídeas na capa, ao invés da imagem da
cantora, como era comum nos anos 1950. O nome Matarazzo foi escrito em
letras menores e discretas na contracapa, e toda a renda do disco foi
revertida para o Hospital do Câncer, como forma de “justificar” o porquê
de uma senhora da alta sociedade gravar um disco.
Enquanto Maysa estava casada, era vista como uma excêntrica
dama da sociedade paulista com um misto de propósito social e capricho.
No entanto, seu trabalho começou a ser ouvido – e comentado. Enquanto
durou o casamento com Matarazzo, durou a lua de mel com a imprensa. Mas
a cantora se tornou excessivamente requisitada, o que levou André a lhe
fazer um ultimato, exigindo que ela escolhesse entre o canto e o casamento
(NETO, 2007: 83). Criativa, ela respondeu com a canção “Ouça”,
um de seus maiores sucessos:
Ouça, vá viver
Sua vida com outro bem
Hoje eu já cansei
De para você não ser ninguém
O passado não foi o bastante
Para lhe convencer
Que o futuro seria bem grande
Só eu e você
Quando a lembrança
Com você for morar
E bem baixinho
De saudade, você chorar
Vai lembrar, que um dia existiu
Um alguém que só carinho pediu
E você, fez questão de não dar
Fez questão de negar
Maysa deixou claro, na canção, que o ultimato era falta
de atenção dele para com ela, algo feito em nome das aparências e dos
valores sociais, sem levar em conta seus sentimentos. Separou-se pouco
tempo depois – e foi o suficiente para que a imprensa radicalizasse o
tom de suas reportagens.
Separar-se de um industrial poderoso como André Matarazzo
foi um grande escândalo: se cantar não era para moças de boa família,
uma moça separada de um tão bom partido seria sempre associada a escândalos.
Foi o que aconteceu com ela, que terminou por assumir esse lugar que lhe
foi imposto, com várias tentativas de suicídio e porres intermináveis.
Essa idéia de se mostrar de fato uma “garota má” também feriu muito a
compositora. Mas mais insuportável para ela, era o controle que a sociedade,
a imprensa e as pessoas em geral tentavam exercer sobre sua vida. Logo
no primeiro disco, mostrava que não pretendia ceder às pressões exercidas
pela sociedade sobre as mulheres, na canção “Resposta”:
Ninguém pode calar dentro em mim
Esta chama que não vai passar
É mais forte que eu
E não quero dela me afastar
Eu não posso explicar quando foi
E nem como ela veio
E só digo o que penso
Só faço o que eu gosto
E aquilo que creio
Se alguém não quiser entender
E falar, pois que fale
Eu não vou me importar com a maldade
De quem nada sabe
E se alguém interessa saber
Sou bem feliz assim
Muito mais do que quem já falou
Ou vai falar de mim
“Resposta”
foi regravada em mais dois discos, em 1959 e 1970. Maysa sentia que precisa
repetir sempre: só digo o que penso, só faço o que gosto e aquilo que
creio. Dentro daquilo que a imprensa chamava de loucura, ela tentava
uma construção de si num tempo em que a escolha de uma estética da existência
não era permitida às mulheres. A compositora assume na canção sua impulsividade
e seu descontentamento com as normas e convenções sociais.
Dolores Duran, por outro lado, apontava na canção “Quem
sou eu” uma mulher bastante submissa aos controles de seu tempo:
Se mil vezes você me deixar
E voltar
Eu aceito
Quem sou eu pra dizer o que é
E o que não é direito
Meu amor é sincero
É amor e será sempre assim
Quem sou eu pra querer que você
Goste apenas de mim
Se mil vezes você me trair
Perdoarei
E palavras amargas e tristes
Jamais lhe direi
Sou assim, ai de mim
Sou assim e não posso mudar
Meu amor é mais forte que eu
Meu amor é mais forte que eu
Quem sou eu pra mudar?
Isso não quer dizer que Dolores concordasse com essa submissão.
Em outras canções, a compositora traz mulheres que reagem nas relações
amorosas, como em “Fim
de caso”, onde a personagem não agüenta a vida “morna” ao lado de
seu companheiro:
Eu desconfio
Que o nosso caso está no hora de acabar
Há um adeus em cada gesto, em cada olhar
Mas nós não temos é coragem de falar
Nós já tivemos
A nossa fase de carinho apaixonado
De fazer versos, de viver sempre abraçados
Naquela base do só vou se você for
Mas de repente,
Fomos ficando cada dia mais sozinhos
Embora juntos cada qual tem seu caminho
E já não temos nem coragem de brigar
Tenho pensado
E Deus permita que eu esteja errada
Mas eu estou, ah eu estou desconfiada
Que o nosso caso está na hora de acabar
Em “Prece
de Vitalina” aparecem algumas das sujeições impostas às mulheres que
deveriam almejar o casamento para assumir seu papel. A canção, que mostra
a moça no “desvio” perde toda sua gravidade com a interpretação de Dolores.
É um xote muito bem humorado, onde ela brinca entre o canto e a fala:
São José por seu favor
Sem lhe fazer meu criado
Diga aí pra Santo Antônio
Que eu continuo de lado
Em junho de 36
Pedi pra ele um marido
Ou ele tem má vontade
Ou se esqueceu do pedido
São José, eu sou Lili
Sou filha do véio Sá
Moro aqui em Aracaqui no Estado do Ceará
Aperreie Santo Antônio
Não deixe eu ficar titia
Eu sei que não custa nada
Se custasse eu não pedia!
Santo Antônio já casou
Encarnação e Carmela
Casou inté Do Socorro
Que é bucho de banguela
Das moças da minha idade
Quem tem pouco tem três filhos
Ó xente, só eu não caso
Danou-se, tô no desvio
Me vou, tô no desvio
Tô toda desgraçada, eu não agüento mais
Eu não arranjo ninguém, moço!
Danou-se!
Em “O
negócio é amar”, letra postumamente musicada por Carlos Lyra, escrita
provavelmente durante os anos em que mais produziu suas canções (entre
1952 e 1959) Dolores fazia uma avaliação sobre o amor. Apesar de parecer
uma defesa a todas as formas de amar, ela evidencia uma clara crítica
à idéia do ciúme como prova de amor e ao discurso do amor romântico:
Tem gente que ama, que vive brigando
E depois que briga acaba voltando
Tem gente que canta porque está amando
Quem não tem amor leva a vida esperando
Uns amam pra frente, e nunca se esquecem
Mas são tão pouquinhos que nem aparecem
Tem uns que são fracos, que dão pra beber
Outros fazem samba e adoram sofrer
Tem apaixonado que faz serenata
Tem amor de raça e amor vira-lata
Amor com champagne, amor com cachaça
Amor nos iates, nos bancos de praça
Tem homem que briga pela bem-amada
Tem mulher maluca que atura porrada
Tem quem ama tanto que até enlouquece
Tem quem dê a vida por quem não merece
Amores à vista, amores à prazo
Amor ciumento que só cria caso
Tem gente que jura que não volta mais
Mas jura sabendo que não é capaz
Tem gente que escreve até poesia
E rima saudade com hipocrisia
Tem assunto à bessa pra gente falar
Mas não interessa o negócio é amar...
Dolores morreu em 1959, aos 29 anos. Tinha sérios problemas
de saúde que vinham da infância e, segundo Cravo Albin, não se sabe se
sua morte foi causada por distúrbios cardíacos ou overdose de barbitúricos
(cf. verbete de Dolores Duran no site do Instituto Cravo Albin [UFRJ]).
Aquela que teria sido sua última frase ao chegar de manhã em casa, depois
de cantar e passar por várias boates, ficou marcada em quase todas as
histórias que se conta sobre a compositora: “Não me acorde, estou cansada.
Quero dormir até morrer”. Dolores nunca mais acordou.
É interessante notar que se por um lado as formações discursivas
colocavam o casamento como o único caminho para a felicidade, a trilha
sonora desse período apontava claramente a relação existente entre amor
e dor. Claro, poderíamos considerar que como artistas, compositores e
intérpretes estavam no “desvio”, como disse Dolores em sua canção. Mas
era a trilha sonora consumida por todos os redutos familiares, também.
Era o que se ouvia em todas as classes, num tempo em que o rádio, especialmente,
tinha amplo alcance, como hoje tem a televisão.
Com as interdições desse tempo, é interessante perceber
que Maysa pensou muito essa relação de amor e dor implícita do samba-canção
– e em sua vida. Se mesmo à revelia de seu tempo ela conseguiu quebrar
muitos dos estereótipos sobre as mulheres, esse “destino ao amor” nunca
foi resolvido. Maysa buscou incessantemente o amor em sua vida, mas jamais
conseguiu manter essas relações. Havia uma espécie de claustrofobia nos
relacionamentos que ela não agüentava. Para a compositora, a idéia de
felicidade era uma utopia, então ela cantava, em “Felicidade
infeliz”:
Felicidade
Deves ser bem infeliz
Andas sempre tão sozinha
Nunca perto de ninguém
Felicidade
Vamos fazer um trato
Manda ao menos teu retrato
Para que eu veja como és
Esteja bem certa porém,
Que o destino bem cedo fará
Com que teu rosto eu
Eu vá esquecer
Felicidade não chores,
Que às vezes é bom
A gente sofrer
Maysa morreu em um acidente de carro na ponte Rio – Niterói,
em 1977. Tinha 40 anos e não estava embriagada, como foi noticiado
de imediato.
Se as canções de Dolores e Maysa reforçaram alguns dos
estereótipos sobre as mulheres nesse período, não podemos nos esquecer
que ambas tentaram se afastar desse mesmo estereótipo em suas vidas. Num
pequeno paralelo com a literatura, ao tratar dos romances de Lúcia Miguel
Pereira, nos anos 1930, Nádia Gotlib afirma que:
A autora denuncia [...] a pressão das convenções de família,
a submissão da mulher diante de tal peso e os vícios de uma família aparentemente
bem comportada. Não há satisfação pessoal nessas relações convencionais,
ou seja, a experiência aparece filtrada pela barreira das regras movidas
a hipocrisia de uma sociedade que perdeu o sentido da experiência de sua
própria autenticidade. Perdeu-se a própria identidade primitiva, única
garantia possível de sobrevivência – diria – criativa e, assim, original.
(GOTLIB, 2003: 49)
Talvez seja esse o mesmo ponto em relação ao samba-canção
nos anos 1950 – havia ali, em algumas das nas composições de Maysa e Dolores,
uma clara denúncia da hipocrisia daqueles tempos. De forma distinta ao
samba-canção composto por Lupicínio ou Antônio Maria, percebe-se nas duas
compositoras o questionamento das regras e valores ditos femininos naquele
período. Ou, como na canção de Ricardo Galeno “só me vê na vida dele,
mas não o vê na minha vida”. As mulheres não eram as únicas responsáveis
pelo fracasso dos relacionamentos.
as transformações
O samba-canção entrou em declínio no final dos anos 1950,
abrindo espaço para o mais internacional dos movimentos brasileiros, a
Bossa Nova. Mas mesmo nela (como também em seguida, na Jovem Guarda),
as mulheres ainda eram retratadas como objeto.
A grande mudança vem com a contracultura (cujo grande marco
foi o ano de 1968, com rebeliões estourando em vários países) e o conseqüente
questionamento dos costumes estabelecidos e do “moralismo pequeno-burguês”,
que teve, no Brasil, sua melhor representação na Tropicália, no final
dos anos 1960, e na poesia jovem dos anos 1970.
Duramente criticados pela esquerda marxista, que os chamava
de alienados (lembrando que nesse período vivíamos uma recrudescida ditadura
militar em quase toda a América Latina), esses jovens acreditavam que
o primeiro princípio para a libertação era a liberação dos costumes e
da rígida moral burguesa, para eles responsáveis pelas hierarquias e pela
busca incessante do poder.
Para as mulheres, a conjugação do feminismo com a contracultura
marcaram uma grande e nova revolução: com a contestação de todos
os tipos de poderes e hierarquias, elas perceberam como poucas vezes antes
na história, as imposições e restrições sobre suas vidas, seu corpo, sua
vontade e seus desejos.
Da geração de compositoras desse período, a que mais se
destacou na contestação das regras vigentes, especialmente em relação
às mulheres, foi sem dúvida, Rita Lee.
Desde garota, Rita Lee sempre preferiu as brincadeiras
proibidas às meninas. Em uma recente biografia em DVD, ela conta que tinha
certeza que se alguma coisa era proibida era porque devia ser muito divertida.
Cercada por mulheres “por todos os lados”, a mãe, as irmãs, tias e primas,
procurava as referências do feminino nas mulheres que desafiavam as estruturas
moralistas, como Luz Del Fuego, Elvira Pagã, Pagu e Dercy Gonçalves (LEE,
2007).
Roqueira desde o seu primeiro grupo, formado aos 15 anos,
ainda no ginásio, começou a compor em 1966, ouvindo com freqüência, por
todos os lados, que “para se fazer rock era preciso ter culhão”. E foi
por ser mulher o motivo de ter sido expulsa dos Mutantes, quando Arnaldo
e Sérgio decidiram partir para o rock progressivo. Os irmãos alegaram
que sua voz feminina não servia, e que ela não sabia tocar direito nenhum
instrumento (cf. BARTSCH, 2003).
Em seu artigo para a História das Mulheres, Marcelle
Marini nota, a respeito das artes em geral, que:
A literatura e as artes são frequentemente consideradas
domínios femininos: a sua análise prova, pelo contrário [...] que tais
domínios estão longe de estar realmente feminizados, e ainda mais de estar
nas mãos das mulheres. [...] Obrigados pelas transformações socioeconômicas
e socioculturais a tolerar a presença crescente das mulheres neste território,
eles [os homens] continuam a considerá-lo como o seu feudo. Consumidoras
ou auxiliares, sim; criadoras, não, ou então a título excepcional, dentro
de limites rigorosamente definidos, sem nada alterar aos valores ditos
comuns, de que o homem, por natureza e/ou por herança histórica, seria
o único responsável. A concentração das mulheres em setores considerados
inferiores seria apenas o aspecto atual do ostracismo que as atinge, a
elas e às suas obras, desde há séculos. (MARINI, 1991: 352-353)
Em outras palavras, ainda nos dias de hoje as chances de
reconhecimento e, principalmente, a perpetuação das obras criadas por
mulheres são exceções, ou circunscritas às pessoas que se interessam pelo
assunto. De formas similares, Virgínia Woolf já dizia o mesmo em Um
teto todo seu (1928), e Michelle Perrot reafirma a mesma questão em
seu livro Minha História das Mulheres (2006).
A reafirmação da idéia de que o rock era um espaço masculino,
onde as mulheres poderiam aparecer apenas como figurantes, irritou muito
a compositora. Rita Lee conta que, para ela, desacatar a autoridade masculina
sempre foi o máximo, e resolveu mostrar que o rock tinha “ovários e
úteros” (LEE, 2007).
No Brasil, a história do rock, considerado o “mais masculino
da canção” foi todo pontuado pela atuação feminina em nossa história musical,
o que poucos autores observam. Ainda no tempo do samba-canção, a primeira
gravação do gênero no Brasil foi em 1955, quando Nora Ney interpretou
“Rock
around the clock”, sucesso internacional de Bill Halley. É preciso
notar que apesar de aparecer no disco como uma versão de Júlio Nagib,
a música foi gravada em inglês – a única versão está no título, apresentado
como “Ronda
das horas”, e o gênero, que nessa época era marcado nos discos de
78 rotações por minuto, é apontado como Fox.
No final dos anos 1950 e início dos 60, Celly Campello
se tornou recordista de vendagem do rock (bem comportado, no entanto)
aos quinze anos de idade. Cabe notar que seu primeiro compacto, de 1958,
trazia duas canções com letra de Celeste Novais, musicadas por Mário Gennari
Filho. Wanderléa foi o grande nome feminino na Jovem Guarda, movimento
liderado por Roberto Carlos que, no entanto, ainda era bastante sexista.
Em seguida, Rita Lee veio com os Mutantes firmar a revolução do rock.
Finalmente, o nascimento do pop-rock no Brasil, que dominou os anos 1980,
teve como primeiros sucessos as canções gravadas pela voz rouca de Marina
Lima, que teve sua primeira canção, “Meu
doce amor”, interpretada por Gal Costa, em 1977, e lançou seu primeiro
disco solo dois anos depois, em 1979.
Em sua biografia sobre Janis Joplin, a historiadora feminista
Alice Echols lembra que o rock’n’roll era o espaço da agressividade
e da sexualidade, portanto inadmissível para as mulheres – a chegada de
Janis, em meados dos anos 1960, tornou-se um marco na história do movimento
nos Estados Unidos:
O que faz a rebeldia de Janis ser especialmente notável
é que ela estava muito à frente de seu tempo, recusando-se a ser uma boa
menina muito antes de a revivificação do feminismo moderno legitimar tal
recusa. Em 1967, quando Janis passou a liderar as manchetes, os primeiros
grupos de liberação das mulheres ainda não estavam formados, e carreira
e família pareciam totalmente irreconciliáveis para as mulheres. E quando
se tratava de relações entre homens e mulheres, nem a contracultura era
contra de verdade. A luta de Janis teria sido dura o bastante se ela apenas
desejasse ser uma cantora pop de sucesso, mas ela também estava tentando
cavar seu espaço em uma cultura em que o único papel aceito para uma mulher
era o de ser a “patroa” de seu homem.(ECHOLS, 2000: 13)
É notável como podemos substituir Janis
por Rita Lee nesse trecho de Echols: Rita também aparece em cena no
Brasil em 1967, quando participa com os Mutantes do 3º Festival da Música
Popular Brasileira na TV Record, acompanhando Gilberto Gil em “Domingo
no parque”. Seu primeiro disco solo foi gravado em 1970 – Já estou
até vendo / Meu nome brilhando / E o mundo aplaudindo / Ao me ver cantar
/ Ao me ver passar / I wanna be a star!, cantava em “Sucesso
aqui vou eu [Build up]”.
Rita Lee é uma das compositoras brasileiras que mais pensou
as relações de gênero em suas composições. Apresentou uma nova mulher,
desconhecida para a canção brasileira, uma “ovelha negra da família
que não vai mais voltar” que revolucionava a relação entre os gêneros.
A partir da revolução comportamental do feminismo e da
contracultura nos anos de 1960, as compositoras se multiplicaram e foram
aos poucos tomando seu espaço: Joyce, Sueli Costa, Fátima Guedes, Luli
& Lucina, Marina Lima, Ângela RoRo, Marisa Monte, Joanna, Ana Terra,
Rosinha de Valença, Paula Toller, Bebel Gilberto, Anastácia, Thereza Tinoco,
Alzira Espíndola, Tetê Espíndola, Alice Ruiz, Ná Ozzetti, Marlui Miranda,
Simone Guimarães, Zélia Duncan, Ana Carolina, Klébi Nori, Adriana Calcanhotto,
Cássia Eller, Dona Ivone Lara, Rosa Passos e Leci Brandão são alguns nomes
que podemos citar (entre muitos outros) de mulheres com um relativo reconhecimento
como compositoras, apesar de boa parte delas só se tornar conhecida apenas
como intérprete, da mesma forma que Marília Batista nos anos de 1930.
Deixei de fora muitos nomes importantes da composição feminina
que poderiam também contribuir para uma nova visão sobre as mulheres,
mas meu intento aqui foi mostrar como as mulheres se reescrevem a partir
da canção popular, mostrando que são elas que devem (e podem) dizer quem
são, já que até os anos de 1950 tudo o que se dizia sobre as mulheres
era uma construção masculina. Nesse sentido, foram emblemáticas, a meu
ver, as referências de Maysa e Rita Lee para toda uma geração de compositoras
que se seguiu. Ambas se empenharam com paixão e atrevimento em suas obras
e em suas vidas para que outras mulheres percebessem a possibilidade da
de ousar, de escapar às normas e reinventarem-se. A partir dessas duas
mulheres multiplicaram-se as compositoras: se antes eram invisíveis ou
apagadas em sua experiência como criadoras, agora estão por toda parte,
dizendo o que pensam e inventando novas formas viver.
Na novíssima geração de compositoras destaco as artistas
do grupo DonaZica, em São Paulo. Formada por nove músicos, a banda trabalha
com repertório autoral, composto pelas mulheres do grupo: Iara Rennó (filha
de Alzira Espíndola), Anelis Assumpção (filha de Itamar Assumpção) e Andréia
Dias. Irreverente e fortemente referenciada musicalmente pela Vanguarda
Paulista de seus pais, DonaZica traz divertidas constatações sobre a vida
da mulher pós-moderna, em contraste com as crises nos relacionamentos
dos anos 1970. Vejamos o olhar de Sueli Costa e Aldir Blanc naquele período,
em “Altos
e baixos”, do final dos anos 1970. A canção retrata o fim de um relacionamento,
mostrando a dificuldade que as mulheres viveram nesse momento de reconstrução
onde muitos casamentos terminaram:
Foi, quem sabe, esse disco
Esse risco de sombra em teus cílios
Foi ou não meu poema no chão
Ou talvez nossos filhos
As sandálias de saltos tão altos
O relógio batendo, o sol posto, o relógio
As sandálias, e eu batendo em teu rosto
E a queda dos saltos tão altos
Sobre os nossos filhos
Com um raio de sangue no chão
Do risco em teus cílios
Foram discos demais, desculpas demais
Já vão tarde essas tardes e mais tuas aulas
Meu táxi, whisky, Dietil, Diempax
Ah, mas há que se louvar entre altos e baixos
O amor quando traz tanta vida
Que até pra morrer leva tempo demais...
Na canção “O
fio da comunicação” o DonaZica mostra que as transformações hoje são
muito mais facilmente assimiladas, que apesar das dificuldades e das desilusões,
há um esforço para se manter a “mente sã” e ao mesmo tempo a escolha por
se perder a compostura e o medo de errar:
Tem vez que me dói viver
Como pode ser, como pode
Nunca se poder crer
Em ninguém
Simples ser humano com H
Esse osso roer não é mole, eu devo confessar
Esse osso roer não é mole...
O meu amor já não tem mais tanta frescura
A minha vida não suporta compostura
E assimilando toda a situação
Sigo tranqüila com muita perturbação
Espero um dia não tomar o tal Prozac
E nem perder o fio da comunicação
Na vadiagem glorifico ao meu rei
No prosseguir, confesso: também errei
Espero ser uma pessoa quase sã
Pra nunca ter que conhecer o Diazepan
O meu amor já não tem mais tanta frescura
A minha vida não suporta compostura.
Pensando com Deleuze, essas artistas buscam o devir mulher,
diferente da construção do feminino feita no masculino. É um trabalho
árduo e ainda em andamento. Ainda nos pegamos repetindo normas e caindo
nas armadilhas dos padrões, ainda sofremos interdições por todos os lados
em nossas escolhas, nas profissões, nas famílias. Os machismos continuam
vivos, às vezes dissimulados, às vezes escancarados, e sempre rizomáticos.
A biopolítica, o controle da vida pelo estado, faz parte do nosso cotidiano
criando também novas interdições. Mas também percebemos os aliados, homens
realmente filóginos, com apreço pelas mulheres em suas diferenças. Ainda
conjugamos amor e dor, é verdade, ainda procuramos reconhecer e reinventar
nossas múltiplas faces. No entanto, acredito que a arte é a expressão
que melhor pode indicar os caminhos para as mudanças e a transformação
das mulheres, assim como colaborar para as novas visões sobre as mulheres.
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de Dolores Duran no 78 RPM 6.069 (Copacabana/1959)
"Adeus" (Maysa). Gravação de Maysa no LP Convite
Para Ouvir Maysa (RGE/1956)
"Altos e baixos" (Sueli Costa e Aldir Blanc).
Gravação de Elis Regina no LP Elis, Essa Mulher (WEA/1979).
"Balão apagado"(Marília Batista e Noel Rosa).
Gravação de Elizeth Cardoso no 78 RPM 6.254 (Copacabana/1961)
"Bem-te-vi atrevido" (Lina Pesce). Gravação
de trecho por Hermeto Pascoal no Programa Ensaio (TV Cultura/1990)
"Chiclete com banana" (Gordurinha e Almira Castilho).
Gravação de Gilberto Gil no LP Expresso 2222 (Philpis/1972).
"Crepúsculo" (Lina Pesce). Gravação de Gastão
Formenti no 78 RPM 13.050 (Odeon/1929)
"Domingo no parque" (Gilberto Gil). Gravação
de Gilberto Gil e Os Mutantes no LP Gilberto Gil (Philips/1968)
"Eu sou a outra" (Ricardo Galeno). Gravação
de Carmen Costa no 78 RPM 5.108-a (Copacabana/1953)
"Felicidade infeliz" (Maysa). Gravação de Maysa
no LP Convite Para Ouvir Maysa nº 2 (RGE/1958)
"Fim de caso" (Dolores Duran). Gravação de Dolores
Duran no EP 45 RPM Dolores Duran no Michel de São Paulo (Copacabana/1959)
"Fiz a cama na varanda" (Dilú Mello e Ovídio
Chaves). Gravação de Dilú Mello no 78 RPM 15.126-a (Continental/1944)
"João teimoso" (Marília Batista e Noel Rosa).
Gravação de Marília Batista no LP Marília Batista Sua Personalidade...
Sua Bossa (Musidisc/1962)
"Lampião de gás" (Zica Bérgami). Gravação de
Zezé Freitas com participação especial de Zica Bérgami no CD Zezé Freitas
interpreta Zica Bergami (Independente/1998)
"Marcada" (Maysa). Gravação de Maysa no LP Convite
Para Ouvir Maysa 9RGE/1956)
"Menina fricote" (Marilia Batista e Henrique
Batista). Gravação de Olívia Byington no CD A Dama do Encantado (WEA/1997)
"Meu Cariri" (Dilú Mello e Rosil Cavalcanti).
Gravação de Clara Nunes no LP Clara Nunes (Odeon/1973)
"Meu doce amor" (Marina Lima e Duda Machado).
Gravação de Gal Costa no LP Caras & Bocas (Philips/1977)
"Minha toada" (Edson França e Dolores Duran).
Gravação de Dolores Duran no LP Esse Norte é Minha Sorte (Copacabana/1959)
"Não me culpe" (Dolores Duran). Gravação de
Dolores Duran no LP Dolores Duran Canta Para Você Dançar Nº 2 (Copacabana/1958)
"O fio da comunicação" (Andreia Dias). Gravação
de DonaZica no CD Composição (Independente/2004)
"O mandarim" (Jussi Campelo). Gravação de Cida
Moreyra no LP Cida Moreyra (Continental/1986)
"O negócio é amar" (Carlos Lyra e Dolores Duran).
Gravação de Leny Andrade no LP Leny Andrade (Pointer/1984)
"Os hôme implica comigo" (Pixinguinha e Carmen
Miranda). Gravação de Carmen Miranda em 78 RPM 33.331-a (Victor/1930)
"Ouça" (Maysa). Gravação de Maysa no LP Maysa
(RGE/1957)
"Por causa de você" (Tom Jobim e Dolores Duran).
Gravação de Dolores Duran no LP Dolores Duran Canta Para Você Dançar...
(Copacabana/1957)
"Prece de Vitalina" (Chico Anysio e Dolores
Duran). Gravação de Dolores Duran no LP Esse Norte é Minha Sorte (Copacabana/1959)
"Quem sou eu" (J. Ribamar e Dolores Duran).
Gravação de Lúcio Alves no LP A Noite do Meu Bem (Odeon/1960)
"Recado" (Leyde Olivé). Gravação de Inezita
Barroso no LP Inezita apresenta Babi de Oliveira - Juracy Silveira - Zica
Bérgami - Leyde Olivé - Edvina de Andrade (Copacabana/1958)
"Resposta" (Maysa). Gravação de Maysa no LP
Convite para Ouvir Maysa (RGE/1956)
"Ronda das horas [Rock around the clock]" (Max
C. Freedman, Jimmy de Knight -vrs. Julio Nagib). Gravação de Nora Ney
no 78 RPM 17.217 (Continental/1955)
"Solidão" (Dolores Duran). Gravação de Dolores
Duran no LP Dolores Duran Canta Para Você Dançar Nº 2 (Copacabana/1958)
"Sucesso aqui vou eu [Build Up]" (Rita Lee e
Arnaldo Baptista). Gravação de Rita Lee no LP Build Up (Polydor/1970)
"Ternura antiga" (J. Ribamar e Dolores Duran).
Gravação de Nana Caymmi no CD A Noite do Meu Bem (EMI-Odeon/1994)
Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel é graduada
em História (1989), mestre em História Cultural (2005) e doutora na mesma
área (2010) pela Universidade Estadual de Campinas. Foi violonista e cantora,
dedicando-se, desde a sua formação, à pesquisa e divulgação da Música
Popular Brasileira. É idealizadora e mantenedora do site MPBNet (http://www.mpbnet.com.br),
tendo trabalhado, de 1995 a 2004, na RNP – Rede Nacional de Ensino e Pesquisa
(http://www.rnp.br), Organização Social responsável pela conexão com a
internet da Rede Acadêmica Federal, Instituições Federais de Pesquisa
e Centros Técnicos, ligados ao MEC e ao MCT. Publicou diversos artigos
em periódicos especializados e em anais de eventos, além de um capítulo
em livro, e eventuais “divagações” no site Pandorama (http://pandorama.com.br),
onde escreve o blog “Ouvindo a Cotovia”.Atua na área de História Cultural,
com ênfase em gênero, subjetividade e composição feminina.Curriculum Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4273028811847340

labrys,
études féministes/ estudos feministas
juillet / décembre 2010 - julho/dezembro 2010
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