labrys, études féministes/ estudos feministas
janeiro/ junho 2016 - janvier/juillet 2016

 

O diário de Anais Nin[i]

Maria Carneiro da Cunha

 

Resumo:

O texto recuperado de uma publicação de 1978 nos conduz pelo percurso de vida da escritora Anais Nin e por suas ideias a respeito de arte, amor e erotismo, amigos, feminismo. Mostra uma escritora atenta e observadora que se tornou uma das mais importantes do início do século XX, mas que ainda hoje não é muito conhecida entre nós e cujos Diários ainda aguardam traduções para além do primeiro volume e de algumas obras eróticas. Uma das maiores escritoras e uma das figuras humanas mais interessantes do século XX — Anais Nin — continua praticamente desconhecida do grande público no Brasil.  Mas à pergunta “quem é Anais Nin?", podem ser dadas respos­tas variadas: é a pessoa que publicou pela primeira vez o "Trópico de Câncer" de Henry Miller, é a assistente de Otto Rank, discípulo de Freud, é alguém que em certa fase de sua vida decide morar num barco 310 Sena, para transformar um sonho em realidade, é a precursora de novas ideias sobre a mulher, é a amiga e incentivadora dos artistas antes da celebridade, é ela mesma urna artista refinada e profunda? Ela se auto define basicamente como uma anarquista espiritual.

Palavras-chave: Anais Nin, artista, anarquista espiritual, escritora

 

 

Anais Nin, que morreu em 1977 nos Estados, é sobretudo a autora de um famoso Diário. Multo antes de sua publicação, ele já era legendário nos meios literários de ambos ­os lados do Atlântico. Foi Henry Miller, seu amigo desde a década de 30, quem chamou a atenção para ele pela primeira vez, num artigo publicado em 1937 na revista inglesa "The Criterion", no qual o compara às confissões de Agostinho, Abelardo e Rousseau.                                                                                       

 

Nessa época Anais residia em Paris, pois sua vida também se desenvolveu em ambos os lados do Atlântico. Filha do compositor e pianista es­panhol Joaquim Nin, ela nasceu na França e pas­sou a primeira infância seguindo o pai em suas tournées pela Europa. Quando tinha 11 anos, os pais se separaram definitivamente e ela imigrou com seus dois irmãos e a mãe - a ex-cantora de ascendência dinamarquesa e cubana Nin-Culmell — para os Estados Unidos, onde a família se instalou em Nova York.        

Nasce então o Diário, sob a forma de uma carta iniciada ainda no navio que a conduzia á América e dirigida ao pai distante e para ela perdido. “No centro de minha obra está um diário para o pai que eu tinha perdido e amado e queria conservar". Foi o seu primeiro exílio. Tudo nos EUA era diferente da atmosfera a que estava acostumada na Europa: tudo lhe parecia prosaico e despido de encanto. Sem conhecer muito bem ainda a nova língua, a quase adolescente ­refugia-se em seu diário, que é o seu con­fessor e seu amigo. “Quando a criança é desenraizada, ela se esforça para criar um universo do qual não possa ser arrancada”.

Sua formação se faz principalmente graças a uma curiosidade insaciável. Lê praticamente tudo o que lhe cai nas mãos, dentro e fora das bibliotecas, e continua a escrever, agora em inglês que já domina com habilidade. Ela manterá sempre sua fidelidade ao Diário, cujo original alcançará no fim de sua vida aproximadamente 200 volumes. É não só o romance de sua própria vida, como a fonte de inspiração de toda a sua obra de ficção.

As personagens que desfilam através do Diário estão entre as mais significativas da cena cultural e artística da segunda metade do século XX. Anais nos transmite seus “retratos”, ao vivo, aliando a franqueza e a honestidade a uma grande acuidade e capacidade de apreensão imediata. As pessoas lhe interessam por suas habilidades humanas e não por sua fama. Nesse sentido, o retrato do amigo desconhecido é tão (ou mais) importante quanto o do escritor célebre. Se a amplitude de seus interesses é surpreendente, o que mais se destaca é a generosidade de um espírito que não perdeu sua capacidade de admiração. Muitos retratos são críticos, nenhum é mesquinho.

Alguns personagens surgem como planetas constantes e outros como meteoros ou então cometas, que aparecem e desaparecem no momento e na medida em que importam para ela. Mais tarde, ela diria: "O artista é o único a saber que o mundo é uma criação subjetiva, que é preciso fazer uma escolha, uma seleção. A obra é a concretização, a encarnação de seu mundo interior".

E é justamente esse mundo interior — as ex­plorações e tentativas para desvendá-lo — que constitui o tema mais importante do Diário, muito mais que a descrição de pessoas ou acontecimentos. "A alma é talvez o herói deste livro, mas é uma odisseia que vai do exterior ao interior. ( ...) É preciso que eu me desenvolva de forma diferente para percorrer quilômetros, não na superfície, mas em profundidade".

Sob esse aspecto, ele constitui uma viagem exemplar em busca da verdade interna, uma brusca incessante e apaixonada que foge à di­mensão do tempo e faz dele uma das mais fas­cinantes confissões jamais publicadas. Se os mesmos temas básicos voltam constantemente como leitmotivs, eles nunca ressurgem da mesma maneira. Nuances são apresentadas, de uma forma mais ampla ou mais rica, eviden­ciando sua evolução.

Além do Diário, Anais Nin é autora dos romances: Ladders to fire (Escadas de Incên­dio), traduzido para o francês como Les miroir­s dans le jardin (Os espelhos no jardim); Chil­dren of the albatross (Filhos do albatroz); The four-chambered heart (O coração de quatro câmaras); A spy in the house of love (Uma es­piã na casa do amor); Solar barque (Barca solar); Seduction of the Minotaur (Sedução do Minotauro); Collages (Colagens). Os cinco primeiros formam um ciclo denominado Cities of the interior (Cidades do interior). Deixou também diversos ensaios.

Nenhum de seus livros foi traduzido no Brasil, mas ela conta aqui com um circulo de fiéis lei­tores. Trata-se de um circulo restrito. No entanto a repercussão do Diário e a receptividade que sua obra vem encontrando nos últimos anos em todo o mundo, indicam que o interesse vai multo além de um pequeno circulo. Um de seus últimos livros, intitulado Vênus Erótica es­tá há meses entre os dez livros mais vendidos em Paris (de acordo com a revista L'Express). Os tempos estão maduros para Anais Nin. Só os críticos e editores brasileiros é que ainda não o perceberam.

 

“O artista não está aqui para ficar de acordo com o mundo”

ou    

fragmentos do Diário de Anais Nin

“Há uma opacidade nas relações individuais e na insistência para que o escritor estabeleça a relação do individual com o coletivo, o que gera uma espécie de hipermetropia”. Eu acredito no contrário. Cada indivíduo é representativo do conjunto e deveria ser compreendido de uma maneira íntima. Isso permitiria uma compreensão melhor dos movimentos de massas e da sociologia. Além disso, essa indiferença em relação ao individual, a falta de interesse pelo conhecimento interior do ser único e isolado, atrasa as reações humanas e o humanismo. “Demasiada consciência social, sem nenhuma compreensão dos seres”.

“Não estou convencida de que a história seja mais preciosa que os seres humanos, porque a história não é o humanismo. É o amor do pode”.

“Há a ideia cega de que toda a arte é uma “torre de marfim”, quando é ela que torna suportável certas condições do mundo, pelas quais o artista não é certamente responsável. A “torre de marfim” do artista é a última fortaleza que resta para os valores humanos, os tesouros culturais e o culto do homem pela beleza”.

“A literatura, o dom essencial de expressar os aspectos mais sutis do pensamento e dos sentimentos humanos, pode não sobreviver à perseguição: primeiro a religião, a seguir a burguesia, depois o marxismo e agora o mercantilismo”.

“Minha falta de confiança em relação aos homens que nos dirigem deve-se ao fato de que eles não reconhecem a irracionalidade no homem: falta-lhes intuição e aquele que não reconhece o drama individual e pessoal do homem é incapaz de dirigir. Na verdade, os dirigentes têm sido aqueles que simbolizam as emoções irracionais para as massas e, por conseguinte, as tendências negativas e destrutivas (,,,) os clichês jamais converteram ninguém, a não ser multidões histéricas”.

Amor e erotismo

"As ideias são um elemento separador. Os universos mentais são isolantes. O amor é a comunhão com outrem. Ele nos faz abraçar 'todas as raças, o mundo inteiro; todas as formas de criação”.

"Muitos precisam de mitos para amar, mas quando eles se volatizam, seu amor acaba. Eu afirmo que quando o mito fracassa, o amor humano começa. Então nós amamos um ser humano e não um sonho nosso. Um ser humano com todos os seus defeitos”.

“O amor pode não só descobrir uma personalidade em potência, que dorme enterrada e disfarçada, mas também fazê-la sair até à luz. Ao ser amado mostramos um lado desconhecido dos outros. É o amante que opera a transformação e é a ele que damos nosso Eu mais amplo, nossos dons mais completos. Os observadores de fora não veem jamais o ser humano acrescido do que surge sob o fogo de um amor intenso (...). Assim, toda a realidade me parece sempre mais subjetiva, codependente do olhar do amante, o olho da câmara, o olho do pintor”.

“A maioria dos cínicos acentua a “comédia” do amor, esquecendo que os instantes de ilusão e de paixão são os maiores momentos da vida, aqueles dos quais a gente se lembra sempre. Fixar-se tão longamente sobre a desintegração da paixão, quando colocada à prova pela realidade humana, é o mesmo que afirmar que a morte acaba por triunfar sobre nosso corpo, o que não significa que, por causa disso, devamos nos recusar a viver ou a amar. O que eles esquecem é que a paixão não é apenas uma fusão sensual intensa, mas um modo de vida, que produz, como entre os místicos, uma consciência mais viva da vida inteira”. 

“Eros e a sensualidade são o motor que coloca a máquina em movimento; eles são a fonte, a origem, a chave, a Mãe, no sentido que Goethe dá a esse termo. A unidade na multiplicidade, nenhuma dualidade tortuosa e artificial, nenhuma divisão cristã entre corpo e espírito, nenhum divórcio estéril entre emoção e razão, mas razão e emoção unidas inseparavelmente e soldadas juntas como efeito e causa. Instintos, motivações vistos como aquilo que são: as engrenagens que comandam nossa maneira de pensar, mesmo a mais racional; a formidável parte oculta do minúsculo “iceberg” visível sobre a água”.

“O corpo é um instrumento que só produz sua música quando nos servimos dele como um corpo. Sempre uma orquestra. E da mesma forma que a música atravessa as paredes, a sensualidade atravessa o corpo e chega ao êxtase”.

“O sexo perde todo seu poder e toda a sua magia quando se torna explícito, mecânico, exagerado, quando se torna uma obsessão. É um erro não misturá-lo com a emoção, a fome, o desejo, com caprichos, lagrimas, risos, palavras, promessas, histórias, sonhos, fantasias mais profundas que mudam sua cor, perfume ritmo e intensidade. Eis o que lhe dá suas texturas surpreendentes, suas transformações sutis, seus elemento afrodisíaco. Sem isso, restringimos nosso mundo de sensações e o esvaziamos de seu sangue. Só o ritmo uníssono do sexo e do coração pode criar o êxtase”.

“Se as experiências pudessem passar pelo crivo da arte ela imporia a necessidade da beleza. Ela nos indicaria que o único vício é a torpeza e nos livraria automaticamente dessas caricaturas da sexualidade que querem fazer passar por erotismo. Ela devolveria à sensualidade sua nobreza, que está ligada à qualidade e ao refinamento de sua expressão, refinamento que deve ser o da plenitude”.

O artista

“O artista não está aqui para ficar de acordo com o mundo, porque sua função é transformá-lo; não pode fazer totalmente parte dele, pois senão não cumpriria sua tarefa que é a de mudá-lo.”

“Obrigar o artista a tomar consciência de suas responsabilidades de pai, filho e cidadão é adotar a mesma atitude da burguesia que insiste em que ele carregue sua parcela desses fardos dos quais ele procura se libertar. O que parece ser irresponsabilidade de sua parte é na verdade uma responsabilidade em relação a sua obra antes de tudo”.

“O artista cumpre um outro serviço, tão necessário ao mundo quanto os outros: educa a alma, civiliza o selvagem que há em nós e é indispensável a uma sociedade que se pretende humana. Quando ele é obrigado a entrar no presente imediato, perde sua perspectiva particular que lhe permite reunir e relacionar o passado, o presente e o futuro. É monstruoso dizer que o artista não serve a humanidade. Ele tem sido sempre os olhos, os ouvidos e a voz da humanidade. Tem sido sempre o transcendentalista que passa através dos raios X nossos verdadeiros estados de alma”.

“Se a capacidade de sonhar, imaginar, inventar e sentir for eliminada, o homem se tornará um robô bem alimentado, mas morrerá de desnutrição espiritual. O sonho tem sua função e não podemos viver sem ele”.

“O que realmente combatem no artista é seu senso de liberdade, suas tentativas de se libertar da servidão humana. O preço que ele paga é a solidão. Ele pode repudiar sua família humana se ela tenta submetê-lo a uma profissão ou a uma religião, nas quais ele não crê. Pode rejeitar sua pátria se ela agir de forma desumana a seu respeito, como fizeram inúmeros artistas que repudiaram a Alemanha de Hitler”.

“O papel do escritor não é dizer o que todos podem dizer, mas aquilo que somos incapazes de exprimir. A maior parte do que se escreve hoje com o nome de romance, apresenta uma tal pobreza de linguagem, uma tal indigência, que nos faz penetrar num universo restrito, diminuído e mais pobre e informe que o do ser privado de ouvidos, olhos e língua. Cabe ao escritor desenvolver nossos sentidos, ampliar nossa visão, intensificar nossa percepção e enriquecer nossa expressão. A literatura deve desenvolver nossos sentidos e não atrofia-los”.

Feminismo

“O homem tenta sempre criar uma mulher que corresponda a suas necessidades, o que a obriga a se trair”.

“As mulheres são muito mais perigosas enquanto vontades contrariadas, artistas reprimidas, mães frustradas, desejos pervertidos de comandar, que procuram dominar indiretamente através do homem. A mulher de ontem e sua vontade negativa! Sua vontade tentando submeter filhos, maridos, empregados etc, tentando viver através dos outros...”

“Nossa civilização insiste no fato de que a rivalidade e a competição são motivações legítimas. E todo progresso efetuado pela mulher é considerado como uma concorrência, mesmo que não seja realizado com essa intensão”. 

“O homem generaliza a partir da experiência e nega a fontes de suas generalizações. A mulher individualiza e personaliza, mas afinal de contas a análise revelará que as racionalizações do homem eram um disfarce pra seus preconceitos pessoais e que a intuição da mulher era apenas o reconhecimento da influência do pessoal sobre todo pensamento”.

“Eu segui os homens em todas as suas criações, mas sempre procurei assentar e mostrar o ponto de vista da mulher. Os homens foram meus modelos para pensar e as mulheres meus modelos para viver. Eu desejaria traduzir o homem para a mulher e vice-versa. Eu não queria me separar totalmente da linguagem do homem, mas sentia a existência de uma diversidade de níveis”.

“A mulher erra ao esperar que o homem construa o mundo que ela deseja, em vez de criá-lo por si mesma. Esta é a fonte das rebeliões da mulher, de sua impotência e dependência. Eu decidi criar o meu próprio universo e não esperar que o homem o fizesse para mim”.

“Tenho a impressão que a caixa de Pandora representa os mistérios da sexualidade da mulher, tão diferente da do homem e para a qual a linguagem dele é inadequada. A linguagem do sexo ainda precisa ser inventada e a dos sentidos permanece inexplorada. D.H.Lawrence começou a criar uma linguagem para o instinto, ele tentava escapar do clínico, do científico que não traduzem o que o corpo sente”.

“As mulheres são vítimas da opressão do puritanismo. O fato de escreverem sobre a sexualidade não significa que tenham se libertado, pois adotam para falar dela a mesma atitude baixa e vulgar da maioria dos homens. Elas não escrevem com orgulho e felicidade. A felicidade é uma coisa natural como a flor que se abre, como o movimento das marés e o deslocamento dos planetas. Sensualidade natural com todas as suas possibilidades de êxtase e alegria, em linguagem Zen, suas possibilidades de Satori”.

“Vejo muitos elementos negativos no movimento de libertação feminina. A mulher deve deixar de apenas se revoltar contra o que existe. É menos importante atacar os escritores homens do que fazer filmes dirigidos por mulheres”.

“A passividade deve se transformar em vontade criadora se a mulher passa a se exprimir por meio da guerra é porque está imitando o homem e seus métodos. O movimento se torna uma imitação do homem, o que não é uma solução. Ele busca simplesmente um deslocamento de poder. As mulheres deveriam dar uma definição diferente do poder no qual ele se baseasse mais nas relações humanas. Não pode haver libertação de um grupo à custa do outro. A libertação pode se realizar na plenitude e na harmonia”. 

 

Nota biográfica

Maria Carneiro da Cunha (1942-2015) formou-se em Direito, mas não seguiu a carreira, preferiu atuar na imprensa diária, o que fez durante anos, exercendo várias funções, inclusive de repórter e editora. Foi também uma das fundadoras do jornal Mulherio (1981-1988) dedicado ao feminismo plural e inovador. Conhecedora profunda de literatura e música, muito escreveu sobe mulheres artistas na imprensa diária. Participou de Fóruns nacionais e internacionais sobre a questão feminista como a Conferência Mundial sobre a Condição da Mulher em Copenhague (1980) e o Congresso Interamericano de Escritoras no México (1981). Foi autora, entre outros, de A revolução que ficou no caminho; Fourier: o jardim das delícias e em coautoria com Carmem Barroso de O que é o aborto; e ainda de dezenas de artigos em publicações no Brasil, Argentina, México e Portugal.


 

[i][ A versão original deste texto foi publicada na Folha de São Paulo, 02/07/1978. As citações foram  traduzidas e adaptadas do Diário e da coletânea In favor of the sensitive man and other essays.

Atualização: O texto de Maria Carneiro da Cunha embora publicado há décadas, permanece atual, pois agora discute-se mais uma vez a escritora Anais Nin. No interim encontrei um estudo interessante de Lucia Castelo Branco (1996) e outro de Betty Mindlin (2002) e ambos assinalam a pouca repercussão e a falta de tradução dos Diários entre n. Em 2015 o jornal The Guardian fez uma matéria sobre o sucesso de Anais Nin nas redes: ao lado de proliferação de citações ocorreu uma crescente constatação de sua relevância como figura literária, sua singularidade foi destacada e sua inclusão na categoria de escritora de grande literatura reafirmada (Norma Telles).

 

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