labrys,
études féministes/ estudos feministas ISSN:1676-1951 Editorial
Labrys, estudos feministas/ études féministes é uma revista multidisciplinar, internacional, multilíngue, gratuita, online desde 2002. Nosso objetivo é ainda e sempre o mesmo: abrir o debate, divulgar o conhecimento produzido pelas mulheres, mostrar as condições que o mundo patriarcal - cada vez mais ativo - reserva às mulheres, e auxiliar na transformação destas realidades, graças ao dinamismo dos feminismos Na dinâmica da transformação do poder patriarcal na temporalidade, a luta das mulheres enquanto metade da humanidade, exploradas e subjugadas pela violência ou pela “doce” persuasão, deu espaço hoje a um individualismo feroz que desfaz a causa comum do feminismo – a promoção social e econômica das mulheres - para pregar uma liberdade pessoal, ligada principalmente a sexo e à sexualidade, movimento conduzindo muitas vezes, e sem pejo pelo masculino. Sob o pretexto da construção social dos gêneros, o sexo biológico se transformou em sexualidade tout court, cujo exercício se tornou o pivô de uma identidade movediça. É o « novo feminismo », o « pós queer”, que se acomoda nas dobras da “liberdade sexual”, de um “agenciamento” que gira ainda em torno do corpo/sexo, velho molde usado para limitar e definir as mulheres. As práticas sociais e discursivas que constroem identidades, os sexos, o exercício da sexualidade são rejeitadas e esquecidas pois o que conta é o individualismo , esta proclamação de independência que não libera ninguém, pois mantém os grilhões do sexo. Tal é o caso das mulheres prostituídas, entre as quais um pequeno grupo afirma a escolha desta “profissão”, marcada pelo opróbio, de maneira incontornável . Hoje, porta bandeira do patriarcado, a prostituição continua sem entraves a fazer das mulheres o campo onde lavra o masculino. Como se ouviu há pouco tempo na França, “tenho direito à minha puta”, clamavam os homens. Assim, ao se falar do fim dos gêneros, da escolha identitária ou sexual, esconde-se a prisão representada pelo sexo e sexualidade , razão de vida, cadeias antigas, que se renovam com outros perfis. De toda maneira, apesar dos discursos libertários, que drenam a crítica feminista, os gêneros continuam a dividir mundo e os dominantes não estão dispostos a liberar suas presas. O que se vê, hoje, é uma volta atrás, ou centenas de passos que refazem um caminho tão duramente conquistado. A sexualidade “livre” torna-se o motor das teorias, cujas críticas se perdem nas tropas do “eu”, novo vetor de reivindicação. Feminista. Labrys continua a auscultar os movimentos e o ritmo dos acontecimentos Neste número, o dossiê « Cartografias e rupturas: as mulheres na arte » se debruça sobre a arte no feminino, a arte que foi esquecida, senão apagada das narrativas sobre o caminhar histórico do humano. Elas estão lá, sempre estiveram, basta a decisão de desvela-las. Em todos os domínios da arte, o feminino desabrocha, mesmo se o patriarcado tenta lhes cortar as asas. Este dossiê reagrupa apenas alguns nomes, que oferecem, entretanto, a medida do impulso artístico das mulheres. Quem disse que os desenhos e pinturas pré- históricas foram feitos por homens? A quem interessa ocultar o feminino e seu potencial? O patriarcado se esconde atrás dos discursos sobre a inexistência das mulheres na produção humana , o “natural” da desigualdade dos sexos e da incapacidade das mulheres. Para melhor dominar. E no mundo, como se porta o feminismo? O dossiê « Feminismo pelo mundo » mostra-nos a pluralidade das preocupações, dos problemas, das questões e teorias que constroem ou destroem a causa das mulheres. O objetivo primeiro do feminismo é de lhes garantir direitos, cidadania, de protegê-las da violência e da fúria destrutiva do patriarcado. Assim, o individualismo transmitido hoje pelas práticas e discursos feministas é analisado com pertinência neste dossiê, entre outros aspectos que concernem a vida e os movimentos de mulheres. Finalmente, o dossiê « mulheres de aventura » extrai do esquecimento as façanhas das mulheres exploradoras, que tomam a aventura como eixo da vida. Labrys se debruça sobre estas aventureiras sem medo e sem limites em vários de seus números precedentes. E ainda resta uma infinidade delas a serem relembradas . Boa leitura! |