labrys,
études féministes/ estudos feministas
Editorial Quinze anos desde a primeira publicação online de Labrys. Centenas de artigos difundindo a pesquisa e a intervenção feminista no social. Quinze anos que viram a propagação da palavra “feminista” sem que, porém, tenha havido uma verdadeira asfixia do patriarcado. Ao contrário. O patriarcado, este monstro com milhões de tentáculos se renova a cada golpe desferido pelo feminismo a seu poder ilimitado. Sua estratégia é de utilizar o feminismo e as feministas para secundar a manutenção de seu domínio: o caso da prostituição é exemplar, pois hoje são as feministas que apoiam o sistema prostitucional – esta abominação – sob o pretexto de “agentividade” , de liberdade das mulheres prostituídas, que não são senão objetos vendidos e trocados para um consumo sem limites. A pornografia, cada vez mais expandida, expõe e utiliza os corpos das mulheres para estimular virilidades exacerbadas ou em decadência. Esta condescendência em relação ao poder masculino sobre os corpos das mulheres subscreve à denominação “trabalho” para uma atividade que destrói os corpos e o psiquismo das mulheres. É inútil de pensar nas mulheres submetidas à prostituição como sujeitos plenos e livres, pois elas são apenas carne no matadouro das pulsões malsãs dos homens. Ouve-se falar mais de feminismo que antigamente, mas a força do movimento desaparece muitas vezes nos “compromissos razoáveis” que mantém o status quo da ordem patriarcal. É assim que o sexo e a sexualidade tomam ares de “libertação” sob a égide de uma hipersexualização que obriga as jovens a se expor e se tornar disponíveis para serem aceitas nos grupos de adolescentes. O desejo que tinha o feminismo de quebrar as estruturas patriarcais ligadas ao biológico se esgarça e se transforma em “feminismo suave”, “pós-feminismo” ou outas denominações que desfazem a significação profunda do feminismo: a destruição dos parâmetros patriarcais que se instauram em sistema e controlam o social É assim que a violência contra as mulheres cresce em todas suas forma e todos os domínios, quer sejam materiais, simbólicos ou representacionais. A força bruta, os golpes, o assassinato são a outra face da inferiorização constante do trabalho e das capacidades das mulheres. No imaginário, continuam a ser frágeis, incapazes, incompetentes, subalternas. Este « pós-feminismo” que prega o fim da luta e das reivindicações femininas “pois já conquistaram tudo”, agrada demais aos homens, pois é a derrota do feminismo radical, aquele que lhes faz medo, já que visa extirpar os entraves da dominação patriarcal. Todos os dias se ouvem nos discursos sociais as vozes patriarcais dos homens políticos, dos religiosos, dos juristas, dos acadêmicos de todos os níveis, que pretendem a volta à submissão, ao controle dos corpos femininos, tal como a eterna interdição do aborto. Há mesmo os que querem nos ensinar o que é o feminismo, como ser feminista. A condescendência masculina com o feminicídio, com o estupro, pela culpabilização das mulheres assim atacadas, fatos que se contam por minutos são a evidencia da necessidade de um feminismo mais radical, mais agressivo, que não se deixa enganar por um pretenso apoio masculino. Um feminismo que pretende ainda e sempre a liberdade em relação aos estereótipos, a cidadania plena, a construção de um sujeito político apto a dirigir, inventar, criar e, sobretudo se desvencilhar e romper os laços e os limites impostos por um biológico travestido em “natural” instrumento preferencial do patriarcado. Boa leitura
labrys,
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