labrys, études féministes/ estudos feministas
julho/ 2016- junho 2017 /juillet 2016-juin 2017

 

Sua boca diz não, mas seu corpo diz sim": cultura do estupro e Shoujo Mangá*

Valéria Fernandes da Silva

Resumo:

Todos os meses são produzidos no Japão centenas de quadrinhos (mangás), parte significativa desse mercado é voltado para o público feminino e, normalmente, produzido por mulheres.  Apesar de abordar vários temas, o romance heterossexual é dominante nos chamados shoujo mangá, que exercem uma função pedagógica na vida das adolescentes.  Em muitas narrativas, a protagonista é apresentada como um ser dominado por um único objetivo, fazer-se notar pelo amado, tornando-se digna de seu afeto.  Com a globalização dos mangás, esses modelos terminam sendo apropriados e reinterpretados pelas adolescentes de outros países.  Em nosso artigo analisamos, dialogando principalmente com as teóricas feministas Tânia Navarro-Swain e Teresa de Lauretis, como se dá a promoção de modelos de gênero que naturalizam a submissão feminina, justificam a violência masculina e a perpetuação da cultura do estupro dentro do jogo amoroso nos shoujo mangá publicados ou em publicação no Brasil. 

Palavras-Chave: dispositivo amoroso, tecnologias de gênero, shoujo mangá, cultura do estupro

ABSTRACT:

Every month hundreds of comics (manga) are published in Japan, a significant part of this market is aimed at the female audience and usually created by women. Despite addressing several themes, the heterosexual love stories are dominant in the so-called shoujo manga, which has a pedagogical function in the lives of the teenager readers. In many narratives, the protagonist is presented as a being dominated by a single goal, to be noticed by the beloved, becoming worthy of his affection. With the globalization of manga, these models end up being appropriated and reinterpreted by the adolescents of other countries. In our article, we analyze, in dialogue with feminist theorists Tânia Navarro-Swain and Teresa de Lauretis, how gender models that naturalize female submission, justify male violence and the perpetuation of rape culture within the love game are promoted in the shoujo manga published or in publication in Brazil.

Keywords: love device, gender technologies, shoujo manga, rape culture

 

Quadrinhos, ou mangá, nome que lhes é dado no Japão, são uma mídia de grande apelo popular e o produto de uma indústria muito lucrativa.  Lançados em grande quantidade no seu país de origem, os quadrinhos japoneses ganharam os vários mercados lentamente a partir dos anos 1980, empurrados por outra mídia deles derivada, a animação.  Vários países da Europa, Estados Unidos e, também, o Brasil, tornaram-se ávidos consumidores das narrativas publicadas do outro lado do mundo.  (Prough, 2010)

Um grande mercado de mangá conecta vários países e mesmo aquilo que não é lançado comercialmente no Ocidente pode ser traduzido por grupo de fãs e difundido rapidamente pela internet.  Ao longo do tempo, o estranhamento inicial, que começava pelo sentido de leitura diferente do utilizado nos países do Ocidente, se diluiu e mesmo as barreiras de ordem cultural tendem a ser superadas, ou esquecidas, ao longo da leitura. 

Discuto aqui como a violência contra as mulheres aparece nos mangás para as meninas adolescentes, os shoujo mangá, todavia não uma violência qualquer, mas aquela que se constrói e concretiza dentro do jogo amoroso e das relações afetivas entre homens e mulheres, reforçando a chamada “cultura do estupro”.

Para esta análise, parto do princípio que ser homem e mulher em uma dada sociedade é uma construção discursiva constante que se manifesta em práticas, relações sociais e desigualdades; não algo natural, mas historicamente constituído.  Assim, homens e mulheres são instituídos no social e, como define Tânia Navarro Swain, essa constituição se dá com base na desigualdade, na qual o masculino tem poder sobre o feminino e isso é fundamental para a própria construção do ser homem em nossa sociedade. Estabelecido isso, Navarro-Swain define o estupro como “[...] a forma mais exemplar de apropriação”.  (Navarro-Swain, 2008: web)

Este texto trata exatamente de como a cultura do estupro, uma série de práticas e discursos que legitimam toda sorte de violências contra meninas e mulheres, está fortemente enraizada dentro do segmento de quadrinhos produzidos para o público feminino juvenil no Japão.  Para delimitar o objeto deste artigo, recorri às redes sociais, local privilegiado para as trocas e discussões entre fãs de mangá de várias partes do país, buscando exemplos da cultura do estupro dentro dos shoujo mangá e, em virtude dos muitos exemplos que me foram oferecidos, defini que discutiria neste artigo somente mangás publicados comercialmente em nosso país.             

 Um mercado amplo e diversificado

Douglas Kellner, ao definir o que chama de a cultura da mídia, aquela veiculada pelo rádio, cinema, jornais e outras tantas mídias, como os quadrinhos, nos diz que esta cultura

 “[...] é industrial; organiza-se com base no modelo de produção em massa e é produzida para a massa de acordo com tipos (gêneros), segundo fórmulas, códigos e normas convencionais” (Kellner, 2001: 9)

Esta definição se adequa perfeitamente à indústria que diariamente despeja inúmeros volumes de mangás e antologias nas lojas de conveniência e livrarias do Japão.

Na complexa indústria de mangá há uma intensa segmentação demográfica e temática.  Existem revistas especializadas em toda sorte de assunto: história do Japão e mundial, ciências, a conturbada relação entre sogra e nora, o ambiente das grandes corporações etc.  Uma antologia com média de 500 páginas pode, portanto, trazer vinte, trinta histórias distintas conectada por um mesmo eixo temático.  O mais frequente, entretanto, é que as coletâneas sejam segmentadas por demografia, isto é, para crianças de ambos os sexos (kodomo), para meninas e adolescentes (shoujo), para meninos e adolescentes (shounen), para mulheres (josei/lady’s comics), para homens (seinen).

As antologias que publicam shoujo mangá shoujo são consumidas ao longo de anos por leitoras fiéis, que dialogam com as autoras através de cartas e e-mails.  Já as artistas publicam mensagens e respondem perguntas em caixas de texto dentro dos próprios mangás.  Jennifer S. Prough discute como as antologias terminam criando um certo senso de “comunidade” entre leitoras e autoras, que é permeado pelo sentimento de intimidade e amizade.  (Prough, 2011: 56-58). Este tipo auxilia o planejamento de autoras e editores, possibilitando a identificação do que está funcionando, ou não, em uma história. Tal relação, no entanto, não existe no Ocidente, onde, via de regra, os mangás são lançados já compilados em volumes e, por vezes, anos depois de sua publicação original.  

Em sua análise das revistas femininas brasileiras, Sandra dos Santos Andrade defende que as revistas voltadas para o público feminino seriam, de certa forma, “um artefato pedagógico que exerce poder sobre meninas e mulheres, ensinando técnicas de como lidar com o corpo” (Andrade, 2003: 110).  No caso dos shoujo mangá, não somente esse aspecto, mas, principalmente, os sentimentos.[1]  Como tornar-se a mulher ideal, aquela que por merecimento, ou insistência, conseguirá alcançar a felicidade, isto é, encontrar o verdadeiro amor (heterossexual), é um assunto recorrente dos quadrinhos femininos japoneses.

Shoujo Mangá como tecnologia de gênero

Escolhi analisar neste texto de shoujo mangá, porque desejo colocar em evidência a fala das mulheres, pois elas são as autoras preferenciais deste tipo de quadrinho. Há quem não saiba disso, mas uma parcela considerável do mercado de quadrinhos japoneses tem como alvo o público feminino.  São mulheres escrevendo para jovens mulheres em uma mídia que ajuda a urdir

“[...] o tecido da vida cotidiana, dominando o tempo e o lazer, modelando [...] comportamentos sociais, e fornecendo o material com que as pessoas forjam a sua identidade”. (Kellner, 2001: 9) 

Identidade é importante, especialmente, quando falamos de um público tão jovem, pois ela adquire sentido “[...] por meio da linguagem e dos sistemas simbólicos pelos quais elas são representadas. ” (Woodward, 2014: 8) Nesse sentido, é importante mapear como os elementos da “cultura do estupro” aparecem nos quadrinhos produzidos para meninas adolescentes.  Quais seriam as possíveis abordagens e discursos circulando dentro de um segmento dos mangás direcionado à um público em formação e amadurecimento.  

Kellner (2001) enfatiza o quanto a cultura da mídia oferece material para que os consumidores possam pensar e refletir sobre o mundo e sobre si mesmos, sendo a construção do “nós” e do “eles”, algo muito importante.  Nos mangás para meninas, especialmente, naquele segmento mais produzido, o romance escolar, as meninas/mulheres são o “nós” e os meninos/homens são “eles”.  É na relação entre esses dois grupos vistos como distintos e complementares, o eixo central da narrativa.

  Nesse sentido, os quadrinhos atuam como tecnologias de gênero, conforme a definição de Teresa de Lauretis, “o conjunto de efeitos produzidos em corpos, comportamentos e relações sociais” (Lauretis, 1994: 208) que criam homens e mulheres dando-lhes contornos próprios e hierarquizando-os.  Os quadrinhos são tecnologias de gênero, porque são narrativas que produzem sentidos e naturalizam diferenças entre homens e mulheres, ora questionando o que está dado, mas, normalmente, reforçando certos aspectos consolidados no imaginário de uma determinada época.  Assim, “o imaginário [...] reforça os sistemas vigentes/instituídos e ao mesmo tempo atua como poderosa corrente transformadora. ” (Navarro-Swain, 1993: web)

"Deborah Shamoon destaca a frustração de muitas estudiosas feministas em relação aos mangás para meninas, pois o que à primeira vista parece revolucionário, afinal, são mulheres criando quadrinhos para outras mulheres e pensando prioritariamente em seu próprio consumo, converge para a percepção de que a maioria do que é publicado reproduz os valores sedimentados a respeito do masculino e do feminino e reforça a heteronormatividade".  (Shamoon, 2012, p.137)

A partir dessa primeira afirmação desapontada, a autora se pergunta por qual motivo esse tipo de quadrinho fala tão poderosamente às meninas.  E não somente, às japonesas e de que tal fenômeno é digno de atenção e precisa ser discutido.

Outro motivo para trabalhar somente com shoujo mangá é o fato de que centenas de séries ou volumes encadernados são publicados todos os meses no Japão em revistas físicas e digitais que, além disso têm periodicidades diferentes. É muito material e mesmo uma pesquisa de fôlego não poderia abarcar tudo. Além disso, há as várias demografias, cada uma com seu público preferencial. Não é de meu interesse discutir como a cultura do estupro aparece nos mangás para o público masculino, pois teria que fazer outras discussões que não caberiam em um único artigo, e acabaria produzindo uma análise reducionista a respeito da produção japonesa como um todo.

É preciso ressaltar que, mesmo dentro dos shoujo mangá há muita coisa sendo publicada nas mais diferentes vertentes.  Por isso mesmo, decidi dar preferência para o segmento mais publicado, o romance escolar.  Este gênero do shoujo mangá é não somente o mais prolífico, mas igualmente, o mais traduzido fora do Japão.  O que ajuda a sedimentar uma visão imprecisa da demografia, pois, para muita gente, shoujo mangá é sinônimo de romance escolar.

A escola como espaço para o amor

A escola exerce uma função central na vida dos jovens japoneses de ambos os sexos e sua presença nos quadrinhos voltados para este público é uma constante, trata-se de um lugar de socialização, um espaço no qual estão investidas as expectativas do indivíduo e da sua família quanto ao futuro.  Não raro, mesmo quando transportada no tempo ou espaço, uma heroína permanece com seu uniforme escolar ao longo dos capítulos.  Trata-se de uma das variadas formas de manter a conexão com as leitoras, estas elas mesmas estudantes.  Citando um exemplo, em Fushigi Yuugi (1992-1996), um dos primeiros shoujo mangá publicados no Brasil, a heroína e sua antagonista vivem aventuras dentro de um livro mágico que reproduz um mundo que lembra a China medieval.  Salvo em raros momentos, as duas sempre aparecem usando o uniforme escolar. 

Se o romance é assunto recorrente nas histórias para meninas, a escola – o ginásio ou o colégio – é o espaço privilegiado das narrativas ficcionais.  Outro aspecto importante desse tipo de série é que o/a protagonista das séries juvenis tem a mesma idade dos leitores alvo, o que facilita a identificação do/a leitor/a com os dramas do herói ou heroína

O caráter didático desse tipo de série é fortalecido ainda pelo diálogo constante entre leitoras e artistas citado anteriormente.  A relação entre produtoras e consumidoras ajuda a alimentar e criar um espírito de comunidade, a ideia de amizade e intimidade com as autoras, que garante a fidelização das leitoras às suas revistas favoritas e dá às consumidoras a impressão de que elas não são somente receptoras, mas ajudam a criar os mangás que acompanham.  (Prough, 2011: 56-58) 

Se a realização amorosa da heroína é central nesse tipo de narrativa, cabe compreender como o dispositivo amoroso, opera a construção do feminino, do ser mulher.  Um dispositivo é uma rede de discursos, narrativas e conhecimentos que se entrelaçam, recebem estímulos e encontram resistências; que constroem corpos, sentimentos, legitimam prazeres e caracterizam a culpa.  O dispositivo amoroso é aquele que caracteriza as mulheres como seres movidos pelo sentimento, pelo cuidar, pelo amar e pelo se dar ao outro.  Como nos diz Tânia Navarro-Swain:

O amor marca nas mulheres o que o sexo representa para os homens: vórtice, objeto de desejo, aspiração maior, torno de modelagem, centro de gravidade; o amor é invocação, é suspiro, é poema, é vertigem, é expressão e necessidade, é corpo. Pelo amor as mulheres, assim instituídas, são capazes de qualquer coisa, sacrifício, submissão, despojamento. (Navarro-Swain, 2008: web)

A heroína padrão do shoujo mangá é a garota comum; logo, qualquer garota, que se apaixona à primeira vista por um rapaz e, à despeito de todos os obstáculos e mesmo da rejeição, fará o possível, se sacrificará, suportará humilhações (até por parte do amado), para ter reconhecido o seu amor.  Há variações (e não são poucas) com heroínas avessas ao amor, ou mesmo capazes de rejeitar os avanços do rapaz que ainda não sabe amar, mas, via de regra, o encontro amoroso se dá logo nas primeiras páginas e ele determinará o destino da personagem.

Suportar o assédio acreditar-se indigna do amor do mocinho, fazer o possível para tê-lo ao seu lado.  Tudo perdoar.  Acreditar-se culpada das agressões sofridas, tudo isso está no espectro do dispositivo amoroso.  Os papéis de gênero, as hierarquias, terminam naturalizadas e o gênero, que é performance, algo historicamente constituído, parece ser algo cristalizado, imutável.

Mas como a cultura do estupro se manifesta nos shoujo mangá?  Quais as formas mais comuns de expressão que encontramos?  Voltando ao conceito de cultura do estupro, trata-se do

"[...] termo usado para abordar as maneiras em que a sociedade culpa as vítimas de assédio sexual e normaliza o comportamento sexual violento dos homens”. (ONU MULHERES, 2016: web)

Logo que decidi trabalhar com este tema, a “cultura do estupro” nos shoujo mangá, decidi lançar uma pergunta em uma comunidade do Facebook que modero: “Vocês lembram de alguma cena específica em shoujo mangá (ou josei) na qual fique explícita a cultura do estupro?  Se foi lançado no Brasil, tanto melhor. ”[i][2]  Foram muitas respostas e algumas cenas mais emblemáticas foram citadas várias vezes pelas respondentes (somente um homem participou do tópico).  Mesmo tendo sido lidas há vários anos, elas continuavam vivas na memória.

Comparado a outras demografias, se lança muito pouco shoujo mangá no Brasil, mesmo assim, ao longo de mais de uma década de publicação contínua de mangás no país, vários títulos foram publicados em nossas bancas e livrarias.   Muitos outros títulos, a maioria, no entanto, só se torna acessível em virtude do trabalho dos grupos de fãs (scanlators) que, normalmente, traduzem as séries mais populares para a nossa língua. Recebi várias respostas e a partir delas, decidi descartar o que não foi publicado em nosso país, a maioria dos trabalhos citados, porque já tinha material suficiente para um artigo.

Mesmo discriminado pelas nossas editoras, que ainda creem que o público feminino tem pouco interesse por quadrinhos em geral e que os mangás para este público não obtêm boas vendagens, o shoujo mangá é consumido em nosso país e, ao longo dos anos, vários títulos foram lançados.  Dentre as muitas respostas e comentários que o tópico recebeu, houve quem ressaltasse o impacto que certas “histórias de amor” tiveram em leitoras adolescentes:

KFL (Kare First Love foi meu primeiro mangá e eu deveria ter uns quinze anos quando comecei a ler. Tinha medo de namorado meu ser insistente e possessivo daquele jeito comigo, lol.  Ainda amo o mangá, apesar de tudo, mas realmente, essa parte eu acho super triste. ):

A série em questão, Kare First Love, de Kaho Misaya, foi lançada no Brasil pela editora Panini entre 2008 e 2009 e, no Japão, entre 2002 e 2004.  Em dez volumes, a história acompanha o despertar amoroso de uma adolescente tímida e estudiosa chamada Karin, suas dificuldades com o namorado e com a família.  Típica narrativa de shoujo mangá, ela é acessível não somente ao público japonês, mas também, a leitoras de vários países, pois apresenta e discute experiências típicas de uma faixa etária. 

Uma das questões centrais da história é a pressão do namorado, mais experiente, para que a menina mantenha relações sexuais com ele e a complacência da narrativa com a atitude abusiva do rapaz. “Se eu fizer aquilo com você, você deixará de ficar zangado comigo? ”, pergunta a moça em um determinado momento. 

O dilema de Karin: fazer o amado feliz.

Quem é pressionada a sentir-se culpada, fora do lugar, é a protagonista, sendo que em um dado momento a menina chega a buscar no álcool a coragem para fazer sexo pela primeira vez. A sequência vem em seguida a uma recusa. A menina diz “não”, o namorado recua, mas deixa claro que se sente ofendido e que, para ele, fazer sexo com ela é fundamental para o relacionamento dos dois. A protagonista também se recorda do que recomendam as revistas femininas, que está tentando fazer tudo corretamente, mas não consegue chegar até o fim.

A sequência vem em seguida a uma recusa.  A menina diz “não”, o namorado recua, mas deixa claro que se sente ofendido e que, para ele, fazer sexo com ela é fundamental para o relacionamento dos dois. A protagonista também se recorda do que recomendam as revistas femininas, que está tentando fazer tudo corretamente, mas não consegue chegar até o fim. [3]     

A narrativa com viés realista termina por reforçar o dispositivo amoroso, a ideia de que uma mulher só se realiza dentro de um relacionamento e que cabe a ela fazer o possível para agradar o parceiro e isso inclui ceder o seu corpo, mesmo contra a vontade. 

Não há crítica e os temores e necessidades da heroína não são dimensionados, é o amor que sente que justifica qualquer sacrifício.  Nesse sentido, mangás como Kare First Love se prestam à construção da “verdadeira mulher” dentro do dispositivo amoroso, conforme conceituado por Navarro-Swain, os discursos:

[...] repetem incansavelmente suas qualidades e deveres: doce, amável, devotada [...] e sobretudo, amorosa. [...]  O amor está para as mulheres o que o sexo está para os homens: necessidade, razão de viver, razão de ser, fundamento identitário. O dispositivo amoroso investe e constrói corpos-em-mulher, prontos a se sacrificar, a viver no esquecimento de si pelo amor de outrem. (Navarro-Swain, 2006: web)

Voltando à questão do estupro, não se trata de pensá-lo somente como da violação em si, como o ato de penetração, por exemplo, mas como toda sorte de atitudes sexualmente violentas contra as mulheres, a humilhação, objetificação, fragmentação dos corpos femininos, desumanização que possibilita que as mulheres sejam percebidas como alvo do desejo e da ação masculina e, ao mesmo tempo, corresponsáveis pela violência contra elas cometida.  Tampouco, devemos ver o estupro como ato individual, mas como uma prática associada à própria constituição do masculino em nossa cultura. 

“Eu poderia estuprar você! ”

Uma das expressões mais frequentes da cultura do estupro nos mangás é o reforço da inferioridade física feminina, pela intimidação.  Diante de uma protagonista que age de forma “descuidada” em relação a sua segurança, ou que não se mostra temerosa diante do assédio masculino, ou, o que é ainda mais perigoso, que não reconhece que, como mulher, ela é sempre vulnerável e mais fraca, vem a ameaça: “Eu poderia estuprar você”. 

A frase aparece exatamente assim em Ao Haru Ride, de Io Sakisaka, mangá de grande sucesso e adaptado para animação de TV, e filme para o cinema.  A série foi publicada entre 2011 e 2015 no Japão, e ainda está em andamento em nosso país, sendo lançada pela editora Panini.  No capítulo 10 do mangá, a protagonista, Futaba, vai atrás do rapaz, seu interesse amoroso, porque ele faltou à escola e ela está preocupada.  A garota acaba assediada por um dos colegas do rapaz.  Ele a defende, desqualificando seu corpo e aspectos da sua personalidade, tornando-a, portanto, menos atraente para outros rapazes.  Ela se ofende, mas se cala e os dois seguem para um lugar ermo e começam a conversar, em um dado momento, o rapaz finge atacar a moça e diz para a protagonista: “Eu poderia estuprar você agora mesmo, você sabe? / “Você não acha que está sendo descuidada?”

Ao Haru Hide, vol. 3, cap. 10

Dentro da dinâmica das narrativas encontradas nos mangás para garotas, trata-se de um artifício pedagógico, afinal, cabe principalmente à mulher zelar pela sua segurança. Se ela assim não age, não seria cúmplice da violência? Nem todos os homens são como o mocinho da história. Cuidado! Não é um exemplo isolado, ele pode ser encontrado em outros shoujo mangá lançados em nosso país. Se ela assim não age, não seria cúmplice da violência? Nem todos os homens são como o mocinho da história. Cuidado!  Não é um exemplo isolado, ele pode ser encontrado em outros shoujo mangá lançados em nosso país. 

Outra situação semelhante aparece em Colégio Ouran Host Club, de Bisco Hatori.  A série de grande sucesso em vários países, foi publicada entre 2002 e 2010 no Japão e em nosso país entre os anos de 2008 e 2012, teve, assim como Ao Haru Hide, várias adaptações, foi transformada em animação e novela live action para a TV.  Em Ouran, uma comédia pouco comprometida com o realismo, muitas pessoas não sabem que a protagonista, Haruhi Fujioka, não é um rapaz.  A moça não tem interesse por romance, tampouco parece perceber o interesse amoroso que vários personagens masculinos (e femininos) da série têm por ela.  Um dia, vestida como um garoto, Haruri enfrenta um grupo de rapazes mais velhos que estão assediando uma moça.  Ela é agredida e seus amigos, todos homens, partem em sua defesa para, mais tarde, repreendê-la pelo ato impensado.  Como ela não se desculpa, nem reconhece que errou, um dos meninos decide fazê-la entender qual o maior perigo que ela corria:

Ouran Host Club, vol. 3, cap. 9

A sequência da violência “simulada” ocupa várias páginas, com a menina encurralada em um quarto com o rapaz que lhe diz que se ela ficou sozinha com ele é porque desejava que algo lhe acontecesse. Tudo culmina com a ameaça “Eu sou um homem, então, eu posso molestar você quando eu quiser. Como mulher, você nunca será capaz de escapar de mim”. Não é uma cena engraçada, ainda que a autora tente introduzir uma piada no final da sequência. Trata-se, mais uma vez, de um reforço pedagógico. Colégio Ouran Host Club e Ao Haru Ride não foram publicados na mesma antologia, mas são para o mesmo público adolescente."Tudo culmina com a ameaça “Eu sou um homem, então, eu posso molestar você quando eu quiser.  Como mulher, você nunca será capaz de escapar de mim”. Não é uma cena engraçada, ainda que a autora tente introduzir uma piada no final da sequência.  Trata-se, mais uma vez, de um reforço pedagógico.  Colégio Ouran Host Club e Ao Haru Ride não foram publicados na mesma antologia, mas são para o mesmo público adolescente.

Para Foucault, “o dispositivo [...] está sempre inscrito em um jogo de poder” (Foucault, 1988:  246), assim, a ameaça de violação vem para assegurar as hierarquias.  É imperativo que a heroína compreenda qual o seu lugar como mulher e quão errada está em se mostrar autossuficiente.  Ela deve assujeitar-se à sua condição de ser mais fraco e agradecer ao fato de que mocinho “não é como os outros homens”, mas alguém capaz de resistir aos seus impulsos naturais.  Esse tipo de situação, na qual a protagonista é ameaçada de estupro pelo rapaz que ama ou outro homem que lhe é próximo, é muito recorrente em alguns dos shoujo mangá mais populares da última década e os exemplos citados não são casos isolados.

A violência, ou ameaça de violência sexual, aparece com grande frequência nos mangás para meninas. Particularmente, a partir dos anos 1990, o romance quase platônico que culminaria com o casamento, cedeu espaço para a concretização do ato sexual.  Se antes, para que o mocinho e a mocinha se beijassem a leitora teria que esperar vários volumes de história, ou, até mesmo, o último capítulo de uma série, agora, o acontecimento ápice é o sexo nem sempre consentido. 

Não raro é possível perceber na ficção para mulheres (e meninas) certos atos de violência sendo qualificados de “estupros consentidos”, isto é, a heroína diz “não”, quando, na verdade, queria dizer “sim”, só não sabia o que realmente desejava por inexperiência, trauma, pressão religiosa ou familiar, ou, ainda, um necessário pudor.  Afinal, dizer “sim” de imediato não condiz com a atitude de uma “boa moça”, há papéis sociais a cumprir, expectativas (masculinas) a atender. 

Todo esse tipo de arranjo é uma tentativa de romantizar o estupro, relativizando a carga de violência que lhe é inseparável.  Uma definição bem abrangente para o estupro consentido é dada pela socióloga Carla Cuenca Suárez, que delimita muito bem como este tipo de violência se articula com a manutenção do patriarcado e com aquilo o dispositivo amoroso.  Para Suárez:

"O termo “estupro consentido” faz alusão às relações sexuais, refere-se a relações sexuais que as mulheres mantêm sem grande envolvimento, vontade, desejo, líbido ou apetite sexual.  Este ato é uma auto-micro-violência sexual produzida basicamente como um resultado da construção de identidade de gênero e sexual na qual as mulheres se encontram imersas em uma sociedade patriarcal." (Suárez, 2015: 58)

As mulheres cedem, porque é isso que delas se espera, porque foram moldadas para aceitarem que precisam colocar seus corpos à serviço dos homens.  Por outro lado, como defende Navarro-Swain, as mulheres são

“[...] violentadas porque os homens podem fazê-lo, autorizados pela “fraternidade” que o conjunto dos homens partilham”, assim, “[...] o estupro é um tributo pago pelas mulheres à virilidade, na paz ou na guerra”.  (Navarro-Swain, 2012: web)

Esta construção tóxica da masculinidade permite que homens sejam violentos com as mulheres, porque são simplesmente homens e elas, mulheres.  Trata-se de uma relação desigual e violenta que permeia as várias mídias que ajudam a construir a forma como as mulheres e os homens se comportam no social.

Nesse sentido algo recorrente, nos shoujo mangá é a pressão para que a protagonista mantenha relações sexuais com o namorado, ainda que aparentemente, não queira, ou se sinta pronta.  Cabe à heroína mostrar renúncia e desprendimento, inclusive do seu próprio corpo e esses atos são dois dos pilares do processo de subjetivação feminina dentro do dispositivo amoroso.  O corpo deve estar à serviço do prazer do amado dentro do jogo da heterossexualidade compulsória, de forma que o prazer do outro se consagre como o seu próprio prazer.   (Navarro-Swain, 2008: web)

Mas ela disse não...

Se, por um lado, há a pressão sobre a heroína para que ela faça sexo com o namorado, há também, casos em que o estupro se consuma de maneira indiscutível.  Dentre os shoujo (ou mesmo, josei) mangá publicados no Brasil, nenhum apresentou a violência sexual de forma explícita, ou mesmo erotizada.  Tanto Karekano, quanto Paradise Kiss, os dois mangás que comentaremos nesta parte de nosso artigo, mostram o estupro sem, na verdade, mostrá-lo.  É tudo muito sutil e, ainda assim, muito violento. 

Karekano (Kareshi Kanojo no Jijou), de Masami Tsuda, foi publicada no Japão entre 1996 e 2005, tendo ao todo 21 volumes.  O grande sucesso da animação estimulou e difusão da série pelo mundo e o seu lançamento no Brasil pela Panini entre os anos de 2006 e 2008.[4]  Misturando humor, drama e romance, a série acompanhava o dia-a-dia de um casal de namorados, Arima e Miyazawa.  Neste caso, não havia uma protagonista feminina, ambos eram o centro da história.

De forma bem realista, as personagens iniciaram a vida sexual logo nos primeiros volumes da série.  Tudo sem alarde, sem coerção, ou as angústias presentes em uma parte considerável dos shoujo mangá de sucesso.  A partir do volume 12 da série, no entanto, Arima começou a enfrentar uma forte crise familiar e seu psicológico ficou abalado.  A namorada, Miyazawa, decidiu dar-lhe suporte, insistiu para manter o romance e, no volume 15, ocorreu algo que a maioria dos leitores da série não esperava, o rapaz violentou a namorada.

Karekano, vol. 15, cap. 72

O estupro é explícito e toda a narrativa foi conduzida ignorando os sentimentos da moça, o drama, a dor maior, é a do rapaz que pratica a violência. Tendo consciência de seu ato, ele tenta tirar a própria vida e, diante da tentativa de suicídio do namorado, Miyazawa o acolhe e reafirma que nunca disse “não”, ou seja, ele não precisa se culpar, porque em nenhum momento a protagonista deixou claros os seus desejos. A partir deste acontecimento, o perdão, a vida do rapaz começa a voltar ao eixo, já a da moça, uma aluna excepcional e em quem todos viam um futuro brilhante, toma outros rumos: gravidez na adolescência, fruto daquele estupro, casamento precoce e uma carreira que nunca foi sonhada por ela. Em nenhum momento, a autora discutiu a dor ou as perdas de Miyazawa, é como se o amor que ela sente por Arima compensasse tudo.

Trata-se de uma demonstração de sacrifício que se inscreve dentro do dispositivo amoroso, que

“[...]atrela à representação do feminino toda uma série de deveres, de culpabilidades, de normas à serem seguidas por uma “verdadeira mulher” [...]” (Navarro-Swain, 2012: web)

Paradise Kiss, de Ai Yazawa, foi publicado entre 1999 e 2003 no Japão e é o único mangá josei entre os analisados neste artigo.  A série, que trata do universo da alta costura, não foi lançado em uma antologia comum, mas era uma espécie de apêndice de uma revista feminina especializada em moda chamada Zipper.  A qualidade da história e a fama da autora chamaram a atenção para a série que foi lançada em vários países, além de ter sido adaptada para animação e cinema.  No Brasil, Paradise Kiss foi publicado pela editora Conrad entre 2007 e 2008.

Ainda que em Paradise Kiss, a protagonista, Yukari, possa oferecer bom material para discutirmos gênero e até empoderamento feminino, é através principalmente de uma coadjuvante, Miwako, que a cultura do estupro de materializa.  Sobre Paradise Kiss, uma das leitoras que responderam a minha pesquisa disse:

"Parakiss é violentíssimo. Na época que eu li, eu lembro que já me senti desconfortável, e eu nem tinha noção de que aquilo era um estupro realmente (eu li quando era adolescente-cabeça-oca, pra [sic] mim era normal uma mulher falar não porque era 'charme'" -__-).

Embora, a comentarista não use a expressão, ela se remete diretamente ao conceito de estupro consentido.  Miwako tem um namorado, Arashi, que foi seu amigo de infância.  Ambos parecem muito apaixonados, eles mantêm uma vida sexual ativa e isso é sabido por todos.  Mas Arashi é muito ciumento e quando outro companheiro de infância, Hiroyuki, reaparece na vida dos dois, o rapaz se torna ainda mais violento e possessivo.  

Ao descobrir que a moça trocou mensagens com o “rival”, ele grita com ela e destrói seu celular, indo tomar satisfações com Hiroyuki. Durante a conversa entre os dois rapazes é revelado que o namoro do casal começou com um estupro.  Tudo isso acontece no último volume da série, o quinto, e foi igualmente uma surpresa para os leitores.

Paradise Kiss, vol. 5, cap. 44

O fragmento acima traz o momento em que Hiroyuki relembra a violência que Arashi cometeu contra Miwako. Trata-se de uma conversa entre homens, o que reforça, de certa maneira, que a questão era uma competição entre eles na qual Arashi imaginava estar perdendo. Violentar a moça era uma forma de tomar posse dela, de obter a vitória. Segue o diálogo

- Hiroyuki: “Miwako gritou e resistiu... mas você continuou.   Esta foi a única forma que você imaginou para ter Miwako para você.   Isso foi uma tolice.  Você não tinha planejado forçá-la... Mas uma vez que você começou, você podia parar.  Você tende a ficar mais excitado quando encontra resistência.  Isso não é bom.”

- Arashi: “Pare com isso!”

E qual o papel de Miwako?  Como agiu depois do estupro?  Ela o perdoou.  Na sequência da cena é dito que Miwako agiu como se nada houvesse acontecido, permitindo que Arashi superasse sua vergonha e arrependimento.  Afinal, a boca da moça disse “não”, mas este não era seu desejo.  Em discussões entre os fãs, há quem cogite que Ai Yazawa tenha usado a conversa entre os rapazes para criticar uma situação recorrente, o estupro dentro do namoro, uma violência difícil de se provar, no entanto, o tom de camaradagem entre os dois homens ao longo da sequência não aponta para nenhum posicionamento crítico e termina mais por exaltar o desprendimento de Miwako em esquecer sua dor, tal e qual Miyazawa, para que seu amado não sentisse o peso da brutalidade que cometeu.  É a celebração do dispositivo amoroso.

Considerações finais

O objetivo deste artigo era discutir como a cultura do estupro se faz presente nos shoujo mangá.  Apesar da autoria feminina e da forte presença das mulheres no mercado de quadrinhos serem um diferencial do Japão, uma das expressões de empoderamento que serve de modelo para todo o mundo, o resultado geral não são mangás mais progressistas ou igualitários quando se trata de representação de papéis de gênero.

O que é possível mapear, especialmente, nos mangás de maior sucesso e, consequentemente, maior difusão pelo mundo, é a prevalência dos papéis de gênero tradicionais, com uma ênfase na debilidade e vulnerabilidade femininas.   Nos vários exemplos que citamos, percebi o reforço da cultura do estupro através múltiplas violências, além da culpabilização da vítima, e da atuação do dispositivo amoroso, através da celebração do perdão e do desprendimento feminino.  Da mesma forma, há a reiteração da superioridade física masculina e de seu caráter violento, passando a mensagem de que cabe às mulheres ter cuidado e, ao mesmo tempo, aceitar a proteção que lhe é oferecida pelo “homem certo”.

Terminamos, no entanto, retomando Deborah Shamoon e ressaltando que é ingenuidade esperar que toda uma demografia seja feminista simplesmente por ser produzida por mulheres, como se as autoras também não fossem parte de uma sociedade marcada pelas hierarquias de gênero e tivessem que barganhar o tempo inteiro com os sentidos e representações presentes no imaginário social.  Shoujo mangá não é somente ruptura, tampouco reiteração, mas fruto de uma negociação constante entre as autoras, os editores, as leitoras e os valores que circulam na sociedade japonesa contemporânea.

 

Referências Bibliográficas

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Biografia:

Valéria Fernandes da Silva é doutora em História pela UnB (2008), especializada em Estudos Feministas e de Gênero.  Leciona História no Colégio Militar de Brasília e tem publicações sobre temas relacionando gênero, feminismo, Idade Média, mangá e educação.  Mantém um site com artigos sobre cultura pop, especialmente mangás e animação japonesa para o público feminino, sob uma perspectiva feminista (www.shoujo-cafe.com). 


  Notas

* comunicação apresentada no Colóquio de Estudos Feministas, UnB 2016

[1] Dentro das antologias shoujo e josei também há artigos relacionados à moda, cuidado com o corpo, entrevistas, além de propagandas, mas o que elas publicam é principalmente quadrinho.

[3] A sequência descrita começa com a protagonista viajando sozinha com o namorado sem que os pais saibam e está no volume 4, capítulo 18 de Kare First Love.

[4] Kareshi Kanojo no Jijou, o anime, foi exibido no Japão entre 2 de outubro de 1998 e 26 de março de 1999.  Produzido pelo prestigiado estúdio Gainax, a série foi um sucesso mundial, mas só acompanhou o mangá até o seu volume 9.  


[i] Comuicação apresentada no colóquio Colóquio "Mulheres e Violências: Interseccionalidades", UnB.2016

 

labrys, études féministes/ estudos feministas
julho/ 2016- junho 2017 /juillet 2016-juin 2017