labrys, études féministes/ estudos feministas
janvier /juin 2007 - janeiro / junho 2007

 

zeila navarro swain

Amores crucificados
Amores alçados em papagaios verdes
Amores trôpegos, mendigos
Amores em jaula,
Rugindo baixo
Amores viçosos
Namorando o lago
Amores mortos
Relevos escuros na terra
Cicatrizes indeléveis.
Amores viajeiros
Trotando sem escoltas
Amores solitários
Galopando em pradarias
Desertas

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Sair de casa
Sem saber se volto

Após tantos picos e vales
A morte
É um pensamento constante.

Não ansiedade
Desejo, temor.
Curiosidade, apenas.
Vislumbre de um fim
Mais perto.

Saber que se chega.
Ver outros partirem.
Um pouco de inveja
Por já conhecerem
O mistério.

O pensamento se alonga
Felino a brincar com a idéia da vida.
Rola o novelo branco do momento.
O pensamento espreita
Lembra da morte
E para.
Cada movimento se cobre de sentido.

Olhar ao longe
Do cimo:
A paisagem do ontem
Recolhe a cor
Antigas bandeiras, bandeirolas
Marcos do caminho.
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Feriu fundo.
Na pálida cisterna
Repousa o reflexo
Do canto ido.

Desabrocha a dor
Da semente implantada.
Dura planta,
Raízes duras
Maceram
O macio peito.
De musgo feito
Para o eleito
Do canto louro
Nascido
Em dourada festa.

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Alteiam-se os galhos
Aguardam o verde
E a flor.

No tempo externo
É tempo de sol.

Povoam-se os galhos
De cantos e ninhos
E asas.

Doem as raízes
Machucadas das profundezas

É de dor
O tempo de dentro.

Nervos de seiva
Percorrem a terra negra
Desconhecida e necessária.

Abismam-se os nervos
Raízes de dor
Na escuridão do mais fundo.

É tempo de dor
Tempo de descoberta.

Há choques nas raízes
Treme o cerne.
Agita-se a cabeleira verde.
Inquietam-se os pássaros.
Quebra-se o riso.
Desfolham-se as asas.

A chuva fecunda
A terra negra
E estranha
E desconhecida.
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O vôo das mãos
Em busca da taça
Perfume dos corpos
Que a primavera embala
Na dança, na brisa,
Na quimera colhida
No cálice dourado
Que os lábios tocam.
Penugem de musgo
Roçando a pele alba
Toque sonoro de clarins
Na onda madura
Que galga montanhas
E reveste o vale de azul.
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Lampeja o dardo.
Fere a ponta fria
Do olhar.

Vai-se o caçador
Deixa o veneno
E a seta.

No peito louro
A forja e o fogo.

Esvai-se o ouro.
Da espada
A forma dura toma.

No leito da amante
O frio, o veneno, a seta.
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Desviada a seiva
Do rio fecundo
Parada a água
Densa de vida.

Na branca planície
O crepitar od fogo,
O sopro quente do vento
De profundezas revoltas.

Rolam as pedras
Da montanha alta
De gélido topo,
De finas escarpas.

Cobre-se o fogo
De pálida cinza.
Estanca-se o rio
De seiva contida.
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Na chuva
A mansidão branca.
Pomba sutil
Elo alado
Recorte úmido
Entre guisos molhados.

Por entre o banho
Dos cachos de flores
Dos altos ciprestes,
Das serras nubladas,
O olhar sereno
Do templo.

Vagalumes cristalinos
Deslizam nos fios.
E o vôo branco
Novamente se insere
No pano bordado.

A voz da fumaça
Alteia-se, em golfadas.
Esfuma-se a espeiral
Do canto
Por entre sinos.

Na fronte quieta
A mão serena
Da água.
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No despertar da crisálida
Pressente-se a jóia.
Ecoam mistérios profundos
No desadobrar da vida.
Insere-se mais um vitral
Na catedral sem portas.
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Lacrada hora
Do seio aberto
Das mãos carentes
Do lábio mudo

Hora sagrada do amor ardente
Da própria chama
Guardião da hora
Do destroçar lento
Do musgo pisado
Tão tenro nascido

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Escura, envolvente,
Aquela magia
Prendeu de repente.
Magia candente, ardente
Doente,
Magia fremente não sabe de quê.
Magia de flor
Não nasceu de raízes
Não brotou de semente
Surgiu de repente.

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Pousada a taça
Abrem-se as cadeias d´água.
No lagar
Os alvos fios
Do corcel de asas

Vagas douradas
Recobrem a terra

O anjo imenso
Esconde o rosto

Emudecem as trombetas
Que cantaram glórias.
Cessam os tambores
Do mundo.

Na coroa de luz
Se diluem os gritos


No silêncio escuro
Apenas o tropel
Das grandes feras.

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Debruçar
Em teus olhos
De leve
Com medo de mexer
A água profunda

Descer
Aos teurs olhos
Devagar
Como quem busca
Na água
O motivo para a sede.

Mergulhar
Em teus olhos
Simplesmente.
Como quem
Se vai afogar.

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Teu olhar maduro
É um fruto negro
Escuro
Que oferece às mãos jovens
Um estranho sabor de outono.

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Sacramento do olhar.

No altar
Solidão de cálice
Sagrado líquido
A transbordar
Dourado.

Tempo queimando
Nas velas do templo.

No sino
Sem corda
Silêncio do encontro.

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Te amo em cada tristeza,
Com minha angústia te amo
Na solidão do pensamento,
No eco desta distância.

Te amo
Com minha fome,
Te amo
Com minha sede
E com meus nervos e com meu sangue.

Com este coração
Em tocha
Ardendo
Eu te amo.
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No largo peito
De pedra e silêncio.
Macio musgo
Onde pende a cabeça
Sem coroas, sem lauréis.
Os braços lassos.
No grande laço,
O abraço
Colhe a doçura
Da dourada areia.
Por entre os dedos
Escorrem
Os louros cabelos.
O canto pousa
No sol,
Repousa a cabeça
No peito de pedra
No ouro da areia.
O vento desfia milênios
O tempo reborda os ciclos
Na talagarça das pedras.
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passam ataúdes
pesaddos
de pranto.


Soam alaúdes
Febris
De tormento.

Gorgeio de prece
Em gargantas mudas.

Sombra de vida
Nos olhos do morto.
Brilho de morte
Nos olhos dos vivos.

Procissão lenta
De velas apagadas
De chuva e de vento.

Porta gradeada.
Do fim
E do começo.

Sonhos moribundos
A gemer farrapos
Do alta de estacas.

Silencio nos olhos
Na areia
Nas árvores secas.

Ruído de asas
Em torno das cruzes

Gemido de vento
Nos corpos sem vida,
Nos farrapos de sonhos
Que tardam a morrer.

Abismo.
Silencio de pedra
Que não chega ao fim

 

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