labrys, études féministes/ estudos feministas
julho/dezembro2007- juillet/décembre 2007

 

editorial (éditorial-fr)

O que faz correr as mulheres? Correr para dar conta de todas as tarefas, corres para fugir, simbólica e materialmente, entre amor e coerção, entre destino biológico e escolhas políticas; as mulheres correrm e lutam por um lugar ao sol no cenário social.

Dezenas de anos de feminismos se passaream e ainda hoje não há um só segundo no mundo sem que milhares de mulheres sejam surradas, mutiladas, assassinadas, violentadas, quer seja no Brasil, França, Canadá ou alhures; o espaço é recortado segundo as nacionalidades, mas a violencia contra as mulheres existe em toda parte - porque são mulheres, apenas isto. Não ouso imaginar o que seria o mundo hoje sem os feminismos.

Os discursos sociais do senso comum que se exibem nos mídia tentam fazer crer que os feminismos são anacronismo, correntes nostálgicas de solteironas mal amadas, recusadas pelos homens: aí temos a retomada incessante das imagens e da linguagem para desqualificar, dificultar a independência e a autonomia das mulheres..

É também esta iteração das representações sociais que funda um imaginário binário e hierarquizado, como se representasse a "natureza " das coisas". Os feminismos não cessam de denunciar a condição que é feita às mulheres, mas o discurso sobre " a natureza humana" retoma seus "direitos" em cada respiratção, em cada imagem divulgada, cuja força se baseia na religião, na ciência androcêntrica, nas tradições patriarcais. As violências simbólica e material nas quais vivemos estão aí para nos lembrar " o verdadeiro lugar" das mulheres.. 

. Os índices de desenvolvimento humano são muito instrutivos neste sentido: se considerarmos unicamente a perspectiva da renda das mulheres em relação à dos homens , observamos uma taxa na Suécia próxima da igualdade, de 80%, enquanto que nos países árabes; muçulmanos cai a menos de 30%. Na geografia do poder e da riqueza. as mulheres estão no mais baixo patamar, sem falar de alfabetização e outros ítens.

. Os feminismos foram e ainda são o bastião da transformação do mundo, apesar da lentidão e dos obstáculos que nos retém. A hiper-sexualização é , hoje, um dos meios mais eficazes para o contrôle dos corpos das mulheres ligando-as à seu "destino": objeto de utilização e consumo, ventres para produzir e reproduzir machos dominantes.

O círculo vicioso dos mecanismos que criam a tradição fundadora dos costumes há que ser rompido com a invenção, a inauguração de outras fórmulas e outras leituras do real, outras categorias que permitam ver as relações humanas enquanto multiplicidade, possibilidade, fora do incontornável quadro binário mulher/homem cujas representações não levam senão à desqualificação do feminino.

.A institução do sexo social e da heterossexualidade compulsória já haviam sido denunciadas pelas feministas francesas nos anos 1970 e como sublinha Foucault," tudo que foi construído, pode ser desconstruído". Assim, a premissa de um sistema sexo / gênero universal é uma limitação imposta às ciências humanas e sociais - mais uma!- na percepção e interpretação dos dados sobre o humano, cegas pelas representações sociais de um presente que se torna a-temporal.

Labrys, études féministes/ estudos feministas, em sua trajetória, conta agora com 12 números ( 6 anos de publicação) e vem tentando discutir e desvelar a situação das mulheres no mundo, mas também, e principalmente, sacudir os pressupostos que enquandram e dirigem as análises da realidade e limitam a importância da historicidade absoluta das relações humanas.

Um dossiê organizado por Francine Descarries, uma de nossas editoras, mostra o caminhar das feministas pioneiras do Québec;; o dossiê " as marroquinas" nos informa sobre a condição feita às mulheres naquele país, por ocasião da preparação do Quinto Congresso de Recherches Féministes na Francophonie; o dossiê "com toda liberdade" transita entre as mulheres nos mídia, na literatura, a violência da linguagem, o lesbianismo, a imagem da celibatária, o humor, os movimentos das mulheres, além de discutir uma história do possível..

Labrys persiste em ignorar as barreiras linguística, tentando estimular uma troca mais ampla entre feministas de diferentes países e culturas. Espanhol, francês, português, um pequenos esforço basta para superar os obstáculos linguísticos entre estas línguas latinas. É uma boa estratégia para contornar o império da língua inglesa e é este desafio que aqui proponho.

Boa leitura, um bom ano novo e bom trabalho feminista.

anahita.

 

 

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julho/dezembro2007- juillet/décembre 2007