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Labrys
estudos feministas
jjaneiro/julho 2004

MARIA LACERDA DE MOURA (1887-1945)
Margareth Rago
Feminista libertária, escritora polêmica e oradora prestigiada,
Maria Lacerda de Moura se destaca por uma vibrante atuação nos meios políticos,
culturais e literários brasileiros, desde as primeiras décadas do século
20, destacando-se pela rebeldia que caracteriza sua experiência pessoal
e os inúmeros artigos e livros que publicou. Nascida em Minas Gerais,
a 16 de maio de 1887, forma-se pela Escola Normal de Barbacena,
em 1904 e logo se interessa pelas idéias anticlericais e pedagógicas dos
anarquistas, especialmente de Francisco Ferrer y Guardía, fuzilado
pelo governo espanhol, em 1909.
Maria Lacerda escreve sobre inúmeros artigos e livros
de crítica contundente à moral sexual burguesa, alinhando-se como os anarquistas
e radicalizando a denúncia da opressão sexista sobre as mulheres pobres
e ricas. Temas dificilmente discutidos por mulheres em sua época,
como educação sexual dos jovens, virgindade, amor livre,
direito ao prazer sexual, divórcio, maternidade consciente
e prostituição figuram entre os mais
importantes na extensa produção intelectual da militante mineira. Esta
produção abrange tanto artigos publicados em vários jornais e especialmente
na imprensa anarquista brasileira, argentina e espanhola, quanto a revista
que lança em 1923, intitulada Renascença, especialmente voltada
para a questão da formação intelectual e moral das mulheres e numerosos
ensaios publicados em livros. Destes destacam-se: Em torno
da educação (1918); A mulher moderna e
o seu papel na sociedade atual (1923);
Religião do Amor e da Beleza (1926); Han Ryner e o amor
plural (1928); Amai e não vos multipliqueis
(1932); A mulher é uma degenerada? (1932);e Fascismo:
filho dileto da Igreja e do Capital(s/d).
Maria Lacerda de Moura é considerada uma das pioneiras
do feminismo no Brasil, tendo fundado,
em 1921, a Federação Internacional Feminina. Anarco-feminista,
é uma das poucas ativistas que se envolve diretamente com o movimento
operário e sindical de sua época. Entre 1928 e 1937, a ativista libertária
vive numa comunidade em Guararema (SP), no período mais intenso da sua
atividade intelectual, tendo descrito esse período como uma época em que
esteve "livre de escolas, livre de igrejas,
livre de dogmas, livre de academias,
livre de muletas, livre de prejuízos
governamentais,religiosos e sociais".
A militante anarquista morre no Rio de Janeiro,em 1945.
Nota: O principal livro sobre Maria Lacerda é de Miriam Moreira Leite:
Outra face do feminismo: Maria Lacerda de Moura.
São Paulo: Ática, 1986, que acaba de realizar um vídeo sobre essa importante
ativista política; veja, ainda, Margareth Rago – Do Cabaré
ao lar. A utopia da cidade disciplinar
(Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991, 3ªed.), cap.
II, ppgs.95-110.

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