Labrys
estudos feministas
agosto / dezembroulho 2004

Editorial  en français

Sua revista Labrys, estudos feministas mudou. Com efeito, não podemos mais arcar com as traduções de todos os artigos e 5 números inteiramente traduzidos representam um esforço considerável e quase uma façanha, sobretudo com os meios dos quais dispusemos. A revista mantém seu número internacional de identificação (issn) da versão brasileira, que abrigará  todos os textos.

Tínhamos uma revista bilíngüe, trilingue mesmo e temos agora uma revista feminista multilingüe. Se a mundialização apresenta tantos efeitos perversos, talvez , em nosso caso, com a Internet, poderemos criar uma verdadeira oportunidade de trocas feministas quebrando as barreiras das línguas. Brasileiro, espanhol, francês, italiano, línguas latinas que não pedem senão um pouco de boa vontade para sua leitura, de tal forma as palavras se cruzam, se identificam, escarnecem das estruturas formais das línguas bem definidas. Ler em inglês é incontornável na vida acadêmica e assim temos nosso “melting pot”!

Os discursos sobre as conquistas das mulheres são uma constante: ovos direitos, nova visibilidade, plena cidadania. Mas quando fazemos um balanço da situação das mulheres em nível mundial não temos mais vontade de calar o grito de raiva e revolta diante de lapidações, assassinatos, mutilações, privação de liberdade e de direitos políticos, ou simplesmente direitos humanos. No Ocidente, região de mulheres “liberadas”, porque as discriminações salariais, as duplas/ triplas/ infinitas jornadas de trabalho, uma representação política ínfima, uma violência que transborda dos lares para as ruas, nos costumes, nos olhares?

Isto sem falar do status das mulheres em certos países, onde são vendidas, trocadas, veladas, lapidadas, excizadas, obrigadas a casar, queimadas e tantas outras formas de controle e violência. Como não sentir vergonha da banalização , da justificação , do esquecimento do tráfico e da prostituição de crianças, de mulheres em geral, as chamadas “ trabalhadoras do sexo” para melhor acalmar as consciências e esquecer a dor do primeiro estupro, esta dor que as acompanha toda sua vida? E que nos queima , todas nós, da marca infamante da perda de nós mesmas? Como esquecer que tudo se passa em nome da “ diferença” dos sexos, esta diferença política, criada para melhor controlar, explorar, “ em nome do pai?”

E Labrys, em meio a isto tudo? que fazemos de nós, de nossas palavras? Estamos aqui para dizer NÃO, não à conivência, não à tolerância, não aos pactos de mediocridade, de aceitação, de submissão. Não ao fim dos feminismos. Estamos aqui para dizer nossa vigilância, nossa solidariedade, nossa militância,  mas também nosso cansaço desta constante volta para trás, destas mulheres complacentes, desta megalomania de pensar que a violência e a discriminação só acontece à outras.

“ O tempo não passa, ele foge”, já disseram. O tempo nos faz falta, nos apressa, temos hoje a impaciência da liberdade.

O dossiê principal deste número de labrys  oferece-nos um panorama do ativismo das feministas do Québec,  exemplar em sua ação no social, exigindo e forçando mudanças e transformações no status das mulheres. O dossiê sobre o lesbianismo busca expor diferentes perspectivas das relações entre mulheres, marcando sobretudo uma maior visibilidade desta temática na academia e nas discussões feministas. Quem são elas, as lesbianas? Para começar, sujeitos políticos! O dossiê livre traz-nos reflexões sobre a democracia, a sexualidade, a violência contra as mulheres. Finalmente, no dossiê “leituras”  prestamos homenagem a Susan Sontag , sua obra, sua militância, mais uma feminista à quem o tempo faltou.

tania navarro swain

 

Labrys
estudos feministas
agosto / dezembroulho 2004